O presidente Jair
Bolsonaro é hoje a fonte de inflação mais perigosa. Suas palavras, decisões e
atitudes irresponsáveis assustam o mercado, espantam investidores, afetam o
câmbio e acabam inflando os preços com a alta do dólar. Em outros países se
pode conter a inflação com aumento de juros, principal instrumento de aperto
monetário. Não há, no entanto, meios de controlar o presidente brasileiro,
fazê-lo medir suas palavras e tentar criar um ambiente político e econômico
saudável e previsível.
Um novo susto
derrubou a bolsa de valores na segunda-feira e levou o dólar a R$ 5,67, a maior
taxa desde 21 de maio, quando a cotação chegou a R$ 5,70. O fato assustador,
desta vez, foi o anúncio de mais uma gororoba fiscal para financiar a Renda
Cidadã, estandarte da campanha pela reeleição. A fórmula anunciada inclui uma
redução de pagamentos de precatórios, algo com cheiro de calote, e uma
apropriação muito polêmica de recursos do Fundeb. De novo o Banco Central (BC)
precisou intervir no mercado, vendendo moeda americana, para derrubar a cotação
até R$ 5,63, uma taxa ainda muito elevada.
Dólar muito caro,
muitas vezes superando por 40% a cotação do início do ano, tem pressionado os
preços por atacado. Os aumentos são em parte explicáveis pelas exportações do
agronegócio, principalmente para a China, e em parte também pelo câmbio. Dólar
mais caro estimula também as vendas de produtos de menor peso na balança
comercial, como o arroz, mas muito importantes para o mercado interno. Além
disso, preços domésticos tendem a acompanhar os externos, especialmente quando
há aumento de custos.
A inflação do
atacado é bem visível no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Esse indicador
subiu 4,34% em setembro, 14,40% neste ano e 17,94% em 12 meses. Mas convém
traduzir esse aranzel de letras e números. O IGP-M é formado por três
componentes. Os preços ao produtor (atacado) têm peso de 60%. Os preços ao
consumidor correspondem a 30% do conjunto. O índice nacional do custo da
construção representa 10% do indicador total.
Os preços por
atacado, os mais sensíveis ao mercado internacional e ao câmbio, subiram 5,92%
em setembro, 20,14% em 2020 e 25,26% em 12 meses. As maiores altas foram as dos
produtos agropecuários: 9,41% no mês passado, 28,82% no ano e 45,52% em 12
meses. Mas, com o isolamento, a perda de renda e a insegurança de milhões de
famílias, o consumo foi refreado. Por isso, a maior parte da alta de preços
ficou represada no atacado. Houve pouco repasse ao varejo e ao comprador final.
Por isso, o Índice
de Preços ao Consumidor (IPC) aumentou apenas 0,64% no último mês, 2,03% em
2020 e 3,04% nos 12 meses até setembro. Mas isso é um número médio. O custo da
alimentação, um dos principais componentes do IPC, subiu bem mais que os outros
preços pagos pelas famílias, com altas de 1,30%, 7% e 9,08% nos períodos considerados.
Em setembro o arroz ficou 11,08% mais caro e virou o novo terror inflacionário.
“O câmbio médio dos
próximos 30 dias poderá determinar o futuro de curto prazo do IGP-M”, disse o
coordenador de índices de preços da FGV, André Braz, ao apresentar os novos
dados. Dólar na faixa de R$ 5,50 a R$ 5,60 poderá, segundo ele, impedir a
desaceleração dos preços.
Não se pode
rejeitar a possibilidade de um IGP-M com 20% de alta em 2020, embora o cenário
básico seja outro, comentou o economista. Com a volta da China e de outras
grandes economias à normalidade, as commodities se valorizam “e a incerteza
doméstica cria uma desvalorização cambial que, se for perpetuada, poderá criar
uma pressão em direção a esse cenário”, acrescentou.
A incerteza
doméstica, refletida no dólar, também é fator inflacionário. É palavra de
especialista, confirmada no dia a dia dos mercados. Faltou dizer de onde vem a
incerteza. Vem, é claro, do desgoverno, principal fonte de insegurança fiscal e
econômica. Exemplo: a lambança orçamentária discutida na segunda-feira.
Endereço: Palácio da Alvorada. Mas as emas são inocentes.
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