O que é que está acontecendo? Um presidente que prima pela
ignorância agora quer cassar do brasileiro o direito essencial que ele tem à
vida, à saúde e de não se infectar? Por mero capricho, devaneio político e
inconsequência recorrente, o “mito” diz não à vacina? Onde vamos parar? Na
sanha mortal que lhe acompanha desde que alcançou o Planalto, Jair Messias
Bolsonaro tem abominado tudo que, na cabeça dele, em efervescente combustão
para conceber decisões tresloucadas, possa representar trunfo aos demais, não
lhe beneficiando.
Interessa pouco a saúde do povo. Importa sim capitalizar as
vantagens de ser o redentor, mesmo que de araque. Só Messias pode. Só Messias
manda. Só Messias é senhor da boa nova. Do contrário, ela não existe ou deve
ser descartada. O capitão cloroquina, que já tripudiou do isolamento,
desaconselhou o uso de máscara, virou garoto propaganda de uma droga que não
funciona e faz pouco caso da vacina, vai escalando, degrau a degrau, a torre
babilônica dos anárquicos, rumo ao pináculo da insensatez. Isso não é mais um
presidente. É uma aberração no comando.
Leviano, cruel, inconsequente, Bolsonaro converte-se em
candidato a genocida de alta periculosidade por medidas erráticas em profusão.
Quem deveras pode dar ouvido a um personagem com escolhas tão estúpidas? O
inquilino do Planalto caminha para consagrar o Brasil como palco de um dos
maiores retrocessos civilizatórios da humanidade. Um mandatário à frente de um
País que já registra quase 160 mil mortos em meses pela Covid-19 — dentre os
mais letais do mundo nessa catástrofe sanitária, sob qualquer ordem de grandeza
que se avalie — não pode simplesmente seguir promovendo teorias de pateta,
aniquilando as chances de prevenção dos brasileiros.
Deveria ser imediatamente impedido de avançar nessa cruzada
inconsequente. Não é de hoje que o notório defensor da tortura e assassinatos
nos porões da ditadura, que já pregou a necessidade da morte de “uns 30 mil”
numa batalha imaginária contra o comunismo, oferece nítidos sinais de
desequilíbrio nas ideias, flertando com o obscurantismo. O Messias sem noção
tenta, dessa vez, resgatar a apoplética “Revolta das Vacinas”, que no início do
século passado — quando o povo era, naturalmente, menos informado — se
estruturou em um movimento para resistir à vacinação em massa, proposta pelo
célebre médico sanitarista Oswaldo Cruz contra a varíola, que salvou milhões de
vidas e acabou por exterminar a doença.
Bolsonaro repete a sandice nos dias de hoje, pontificando de
maneira virulenta e irresponsável uma resistência sem pé nem cabeça. Ele e seus
acólitos seguidores de falanges ideológicas, terraplanistas por opção, dementes
propagandistas da decadência cultural, empurram o País ao abismo da
desinformação e do preconceito. Nas redes sociais, os robôs dessa massa infecta
desprovida de alma espalham o terror, alegando que as pessoas serão caçadas na
marra em suas casas para tomar a imunização sem comprovação científica.
Calúnia, mentira e má fé se misturam na abominável
estratégia do bando de facínoras. Como podem fazer isso? Como o Brasil se
deixou vergar sob a liderança de alguém tão limitado e míope de propostas? Que
setores da elite econômica, política e pensante da Nação ainda acham razoável a
aplicação de despautérios assim, levados a cabo por ordem e desejo de um
governante sem eixo? Está mais do que na hora de dar um basta. O presidente,
com as suas ambições mesquinhas — cultivando apenas o objetivo de se manter no
poder pelo poder — vai destruindo os alicerces institucionais, pedra por pedra,
capazes de sustentar o desenvolvimento nacional.
Estamos à beira da insolvência financeira, com o
estrangulamento dos sistemas de controle e investigação da corrupção — Lava
Jato asfixiada, PF manipulada e Ministério Público dominado —, e assistimos ao
esfacelamento das boas práticas na Saúde, na Educação e em outros serviços
essenciais. Tudo dominado, aparelhado para o erro, com desordem nas relações
externas, na defesa do meio ambiente, dos direitos humanos, da Cultura. Nada
fica de pé sob o tacape de um capitão que agora enterra o rigor científico e a
eficácia das respostas sanitárias efetivas como a vacina, por meros delírios
imperiais. Por que quer, e sempre quis, ele coloca a politicagem à frente do
interesse coletivo dos brasileiros.
Há meses cidadãos, daqui e do mundo afora, sonham com a
chegada de uma vacina. Está mais próxima do que nunca, mas o capitão planeja se
impor como um obstáculo, maquinando o retardamento do seu uso, por ser
“chinesa”, por ser do “governo Doria” e outras baboseiras inomináveis. A
Coronavac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac em conjunto com o Instituto
Butantan — que é um dos mais respeitados do planeta e maior da América Latina
—, deve ficar pronta em breve. Está, inegavelmente, na dianteira, seja em
prazos ou na comprovação de eficiência. Mas Bolsonaro não quer. Por birra,
ignorância, calhordice, casuísmo político.
Os brasileiros, de maneira uníssona, deveriam gritar em alto
e bom som que esse senhor, com tal postura, não lhes representa, nem a seus
anseios — porque todos querem, sim, a saída para essa dramática, implacável e
angustiante pandemia da Covid, que já ceifou vidas além da conta. Ficar à mercê
dos joguetes políticos de um chefe da Nação sem noção é optar pelo atraso
irreparável. Surpreende, em meio à tamanha desordem da rotina de todo mundo,
que ataques xenófobos dos fanáticos bolsonaristas à qualidade da Coronavac
tenham vez e espaço.
É de um despropósito infame, enquanto a ciência busca,
resignadamente, alternativas e respostas. O presidente e a sua cambada de
aloprados parecem não levar em conta o sofrimento latente de milhares de
famílias. Ao empurrar na latrina o acordo firmado entre o Ministério da Saúde e
os governadores, Jair Bolsonaro acabou por demonstrar o inequívoco grau de
delinquência administrativa a qual chegou. Governadores, estupefatos, se
revoltaram com razão após o cancelamento da compra anunciada no dia anterior,
de um lote de 46 milhões de unidades — o que atenderia um contingente
considerável dos grupos de risco.
O governador do Maranhão, Flávio Dino, chegou a dizer que o
presidente estava “possuído pelo ódio”. O mundo inteiro ficou estarrecido com a
posição de Messias. É de se perguntar como qualquer parceiro, país, corporação
ou investidor pode confiar em um governante com tamanho pendor à
inconsequência? Teorias estapafúrdias parecem controlar o Planalto. Fala-se até
de uma conspiração chinesa para o controle do País. Decerto, para se acreditar
em algo assim, é necessário apresentar carência de massa encefálica e déficit
cognitivo que levem a pessoa a viver numa realidade paralela. Pode ser
espantoso, mas muitos por aqui seguem vivendo essa experiência, quase como em
uma seita de fanáticos desmiolados. De forma geral, as manifestações de extrema
direita no Brasil dos novos tempos vêm passando do razoável.
Invadiram o campo da insanidade. Têm sido imoral a forma
como o presidente está fazendo política com o flagelo social. Não bastassem os
cambalachos de assessores e os cuecões de dinheiro, o governo navega como uma
nau de insensatos, tendo no manche um capitão que precisa ser anestesiado ou
amarrado.
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