A pouco mais de duas semanas para a eleição presidencial nos
Estados Unidos, as pesquisas são unânimes ao apontar larga vantagem (em torno
de dez pontos percentuais) para o democrata Joe Biden. Mais importante: elas
indicam também boa folga para o desafiante sobre o republicano Donald Trump no
colégio eleitoral.
Dirão o leitor e a leitora que em 2016 as pesquisas também
projetavam isso, e no final deu Trump.
Verdade, mas só até certo ponto. Em primeiro lugar, porque a
dianteira de Biden agora é bem maior que a de Hillary Clinton na época. Em
segundo, porque as empresas de pesquisa aperfeiçoaram seus métodos. E em
terceiro, porque os levantamentos nos estados-chave confirmam até o momento a
tendência.
Mas sempre é bom esperar a urna, pois o velho ditado sempre
nos lembra que dela pode sair qualquer coisa. De todo modo, diante dos números,
é bom começar a especular o que pode mudar para o Brasil, para melhor ou para
pior, caso a tendência das pesquisas se confirme e Donald Trump seja mandado de
volta para casa, em Nova York ou na Flórida.
As relações especiais entre o Brasil e os Estados Unidos,
mais particularmente entre Jair Bolsonaro e Donald Trump, parecem ser um eixo
organizador da atual política exterior brasileira. E desde janeiro de 2019 o
Brasil vem abandonando a política externa construída a partir de meados do
regime militar, de um certo não-alinhamento.
Os resultados econômicos por enquanto não chegam a ser
estimulantes, ao contrário, mas esta parece ser uma preocupação secundária em
Brasília. Os aspectos ideológicos e geopolíticos têm falado mais alto. O Brasil
vem aceitando sofrer por enquanto nas relações econômicas desde que Trump se
reeleja e assim reforce-se o apoio dele por aqui.
O que pode mudar com Biden? Bem, talvez seja precipitação
imaginar um confronto aberto e definitivo. Se as relações com os Estados Unidos
são importantes para o Brasil, e mais ainda para o atual governo, boas relações
com o Brasil também são essenciais para a Casa Branca. Inclusive porque se o
Brasil “cuida” das redondezas é um problema a menos para Washington.
E no principal desafio atual para os americanos, a tendência
a serem deixados para trás pela China, não consta que Biden vá ser mais,
digamos, relaxado. Talvez mudem algumas táticas, mas o objetivo permanecerá. E
garantir que o Brasil não seja estimulado a trocar Washington por Beijing nas
preferências continuará sendo vital para a potência do norte.
O nó mais complicado talvez esteja mesmo na questão ambiental,
em que Biden quererá mostrar serviço para 1) agradar à base e 2) garantir que
outros países não se aproveitem de uma eventual rigidez ambiental dos Estados
Unidos para ganhar espaço econômico sobre os americanos. Mas será que isso vai
ser suficiente para deteriorar as relações com o Brasil?
Improvável. Há um amplo leque de possibilidades
intermediárias para um acordo, especialmente porque chegar a um acordo
interessará a ambos. E o governo brasileiro, inclusive e antes de tudo Jair
Bolsonaro, tem mostrado inusitado apetite por recuos e acordos quando o que
está em jogo é a sobrevivência política.
Dificilmente o governo vai dormir no ponto e abrir espaço
para que outros, nos mais diversos pontos do espectro político, apresentem-se
como mais capazes de bem conduzir as relações por aqui com os Estados Unidos.
Inclusive porque não faltam candidatos a desempenhar esse papel na improvável
alternativa Jair Bolsonaro desejar abandoná-lo.
*Alon Feuerwerker é jornalista e analista político/FSB
Comunicação
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