quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

BOLSONARISMO FAZ ARRASTÃO NAS COMISSÕES

Vera Magalhães, O GLOBO

Na minha participação da tarde de ontem no CBN Brasil comentei a respeito da indicação para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara da deputada bolsonarista Bia Kicis.

Reportagem do GLOBO já mostrou, com dados, fatos e ponto a ponto, por que a deputada do PSL do Distrito Federal pode, sim, ser chamada de extremista pelas posições anticientíficas e antidemocráticas que defende, por ser investigada pelo inquérito das fake news que corre no Supremo Tribunal Federal e por ter contribuído, usando o mandato, para boicotar o distanciamento social e as medidas de combate ao espalhamento do novo coronavírus.

Mas o pior risco para a democracia, como eu disse na conversa com Carlos Alberto Sardenberg e Cássia Godoy, é pelas pautas que, no comando da CCJ, a deputada pode colocar em votação, com uma articulação mais eficiente que no passado pela sua aprovação.

A mais preocupante delas é a Proposta de Emenda à Constituição que reduz de 75 para 70 a idade para a aposentadoria compulsória de ministros de tribunais superiores. Trata-se da chave de que Bolsonaro precisa para aparelhar completamente o Supremo Tribunal Federal, que tem sido um dos bastiões da resistência aos arreganhos autoritários do presidente e de seu séquito ideológico, do qual Bia Kicis é uma das generais.

A tomada das comissões permanentes pelos expoentes mais caricatos do bolsonarismo não se limita à CCJ. Está em curso também uma articulação para dar à deputada paulista Carla Zambelli, que reúne os mesmos atributos da colega brasiliense, nada menos que a Secretaria de Comunicação da Casa. É o órgão responsável por todos os veículos de mídia da Câmara — jornal, rádio, portal e, principalmente, a TV Câmara. 

É conhecida a ênfase da estratégia bolsonarista  no controle da narrativa e no ataque sistemático ao jornalismo profissional. Aparelhar os órgãos de comunicação da Câmara é mais uma investida do entorno do presidente, justamente no momento em que ele tem a mais baixa popularidade e enfrenta dissabores na vida real (pandemia, economia em queda), com vista a preparar o terreno para sua reeleeição.

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