sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

CRIVELLA VIRA RÉU

Marcelo Gomes, GloboNews

Marcelo Crivella vira réu em ação sobre o 'QG da Propina'

O ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella virou réu no processo do suposto “QG da propina” na Prefeitura do Rio.

Crivella, que deixou a prefeitura no fim de 2020, é acusado de comandar um esquema de liberação de pagamentos a credores do executivo municipal e direcionar licitações em troca de propina.

Além de Crivella, outras 25 pessoas também viraram rés, entre elas:

empresário Rafael Alves, apontado como o principal operador financeiro da quadrilha;

Marcelo Alves, ex-presidente da Riotur;

ex-senador Eduardo Lopes;

Mauro Macedo, primo e ex-tesoureiro das campanhas de Crivella;

marqueteiro Marcelo Faulhaber;

empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, empresário de transportes no Rio.

Os réus vão responder pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A juíza Juliana Benevides, da 1ª Vara Criminal Especializada de Combate ao Crime Organizado, recebeu a denúncia do Ministério Público do Rio. A decisão foi publicada na quarta-feira (3).

Então prefeito, Crivella chegou a ser preso

Crivella foi preso em 22 de dezembro do ano passado, faltando nove dias para deixar o cargo de prefeito. A Justiça do Rio também determinou o afastamento de Crivella do cargo.

Ele deixou a cadeia no dia seguinte, depois de conseguir uma decisão no STJ que o colocou em prisão domiciliar – situação que continua até hoje.

Delação da Lava Jato

A investigação sobre o suposto QG da propina na prefeitura teve início com a delação do doleiro Sergio Mizhray – que tinha sido preso na Operação Câmbio Desligo, um desdobramento da Lava Jato no Rio.

Em sua decisão que recebeu a denúncia, a juíza Juliana Benevides escreveu que o doleiro deu detalhes sobre o esquema criminoso envolvendo membros da administração municipal, empresários, pessoas físicas e jurídicas que funcionavam como "laranjas", além de operadores do esquema.

A juíza destacou também que, segundo o delator, esses operadores não tinham nenhum vínculo com a estrutura da prefeitura, mas mesmo assim interferiam nas tomadas de decisão, agilizando pagamentos a empresas específicas e interferindo nos processos de licitação, de forma a beneficiar aqueles empresários que concordavam em pagar propina ao grupo criminoso liderado pelo ex-prefeito Marcelo Crivella.

A juíza disse ainda que mensagens trocadas entre integrantes do grupo deixam explícitas partilhas de propinas.

Como funcionava o esquema, segundo o MP

O Ministério Público afirma que o operador financeiro do esquema de corrupção era o empresário Rafael Ferreira Alves. Ele não tinha cargo na prefeitura mas ocupava uma sala dentro de um prédio público na Barra da Tijuca, que ficou conhecida, segundo os investigadores como o QG da Propina.

Os investigadores apontam que Crivella fortaleceu a posição de Rafael na administração, dando trânsito livre para que ele negociasse com empresários a venda de vantagens junto à prefeitura.

Segundo a delação do doleiro e agiota Sérgio Mishay, que admite ter lavado dinheiro para o grupo, Rafael Alves cobrava das empresas pra autorizar pagamentos atrasados que elas tinham a receber da do município – destinava de 20% a 30% ao irmão, Marcelo Alves, que era presidente da empresa de turismo do Rio, e outro percentual a Crivella.

A investigação apontou que o esquema movimentou no mínimo R$ 53 milhões e aconteceu em várias secretarias.

O que dizem os citados

A defesa de Marcelo Crivella disse que vai se manifestar depois que tomar ciência de decisão.

A defesa de Rafael Alves afirmou que o cliente "é vítima de excessos do Ministério Público, que escreve o que quer, mas não tem argumento de autoridade. Não há comprovação destas acusações, que serão cabalmente afastadas no curso do processo".

Nota da defesa de Marcelo Faulhaber: “A acusação a Marcello Faulhaber é de tão simplesmente ter apresentado durante o segundo turno da campanha de Crivella, um empresário a pessoa responsável pelas doações da campanha - a pedido desta última e sem ter recebido qualquer vantagem pessoal ou recurso financeiro por este ato. Marcello, como a própria denúncia do MP descreve, não participou de nenhuma atividade ilícita e não recebeu qualquer benefício ou vantagem pessoal derivada do QG da Propina que supostamente funcionou durante a administração Crivella. Tendo em vista que o único ato descrito foi durante o processo eleitoral e que o valor relatado foi doado a campanha, o Ministério Público e a Justiça Estadual não podem apreciar a matéria. A defesa irá recorrer”.

O G1 e a GloboNews não conseguiram contato com as defesas dos demais citados.

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