domingo, 7 de fevereiro de 2021

TRISTE FIM DA LAVA-JATO

Bernardo Mello Franco, O GLOBO

Na semana em que o bolsonarismo subiu ao altar com o Centrão, a Lava-Jato anunciou que “deixa de existir”. A nota divulgada na quarta-feira não causou surpresa nem comoção. A operação já havia caído no ostracismo, esvaziada pelo grupo político que ajudou a instalar no poder.

Lançada em 2014, a Lava-Jato prendeu dois ex-presidentes e colaborou com a eleição do atual. Ele mastigou seu maior símbolo, Sergio Moro, e nomeou um procurador de estimação para desmontar a força-tarefa.

O ex-juiz também contribuiu para o desmanche. Trocou a toga pelo palanque e se desmoralizou ao conviver com corruptos e milicianos. Quando tentou dar meia-volta, foi despejado do governo e massacrado nas redes. Hoje é sócio de uma consultoria que lucra com os resultados da operação.

A revelação dos diálogos entre Moro e os procuradores removeu o que restava do verniz ético da Lava-Jato. O ex-juiz tabelou com a acusação e comemorou denúncias contra réus que desejava condenar. A pretexto de combater a roubalheira, atropelou a lei e abandonou o dever da imparcialidade.

Conversas divulgadas nos últimos dias reforçam a afinidade entre os investigadores e o submundo bolsonarista. O procurador Januário Paludo concluiu que o sítio de Atibaia pertencia a Lula “porque a roupa de mulher era muito brega”. “Decoração horrorosa”, acrescentou. Deltan Dallagnol chamava o ex-presidente de “9”. Um deboche com o acidente de trabalho que deixou o petista com nove dedos nas mãos.

Os pecados da força-tarefa ofuscaram seus maiores feitos: a implosão do cartel de empreiteiras que capturou o Estado brasileiro e a recuperação de R$ 4,3 bilhões para os cofres públicos.

Depois de sete anos de barulho, a Lava-Jato foi enterrada em silêncio. As panelas que cantavam em sua defesa não saem mais dos armários.

Maracanã até morrer

Como se o Rio não tivesse questões mais urgentes, o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, quer trocar o nome do Estádio Mario Filho para Estádio Edson Arantes do Nascimento — Rei Pelé.

A ideia, revelada pelo colunista Ancelmo Gois, é desperdício de tempo e dinheiro. “O nome do Mario Filho nunca pegou, e o do Pelé também não vai pegar. Será Maracanã até morrer”, crava João Máximo, um dos maiores conhecedores do templo do futebol.

O jornalista lembra que Nelson Rodrigues lutou inutilmente para que os jornais chamassem o estádio pelo nome do irmão. “Se ainda estivesse vivo, Nelson iria parir uma abóbora”, aposta o autor de “Maracanã: Meio século de paixão”.

O livro é anterior à reforma bilionária de Sérgio Cabral, que desfigurou o estádio antes da Copa de 2014.

Dr. Cloroquina

Com mais de 230 mil mortos pela pandemia, o presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro, continua a permitir a distribuição de remédio de malária a pacientes infectados pelo coronavírus.

“Cabe ao médico que quer (sic) tratar realizar o tratamento. E àquele que não quer tratar não realizar o tratamento”, disse ao Jornal Nacional.

O doutor não poderá repreender colegas que receitem aspirina contra o câncer, xarope contra a Aids ou pílula de farinha para prevenir a gravidez.

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