Hipnotizada pelo espetáculo, a imprensa esportiva especulava: a que galáxia Simone Biles poderia chegar? Mas ela, como se fosse o personagem de Melville, Bartleby que vestisse malha, preferiu não saltar. Aos 24 anos, com quatro medalhas de ouro conquistadas no Rio e considerada a maior ginasta de todos os tempos, trocou o “triplo-duplo” mortal —movimento que antes dela só era realizado por homens— para lutar contra seus “demônios”.
Quem torce por cenas como a da maratonista Gabriela Andersen —que nos Jogos de Los Angeles, em 1984, se arrastou na pista até a linha final— não entendeu nada, ficou espumando de frustração, desligou a TV e não viu o solo de Rebeca Andrade ao som de “Baile de Favela”.
Estando ou não no auge da forma física e mental, Simone entendeu a dica de Rocky Marciano, único campeão invicto dos pesos-pesados, que construiu um cartel perfeito em oito anos de carreira: 49 vitórias, 43 por nocaute. Em 1958, depois de conversar com a família, resolveu pendurar as luvas e, dando uma banana para os empresários que imploravam por uma luta de despedida, simplesmente disse: “Cansei”. E foi pescar nos lagos da Flórida.
O momento de Simone Biles —que, pressionada, resolveu disputar o ouro na trave— recorda um episódio que abalou o futebol brasileiro. Um ato de coragem de Leandro, um dos maiores jogadores da história, que surpreendeu a todos ao ficar em casa no dia do embarque para a Copa do México, em 1986. Leandro se desentendeu com Telê, que insistia em escalá-lo na lateral, quando ele, com dores crônicas no joelho, já estava atuando na zaga. Cabeça dura, o técnico não admitia conversa. Ao craque não restou nada a fazer senão dar o bolo.
Bom mesmo é ser primeira-dama e ganhar medalha por conseguir a doação recorde de 148 (!) agasalhos, cobertores e calçados para os pobres. Michelle Bolsonaro já tem mais condecorações que a Rebeca Andrade.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".
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