Marcos de Vasconcellos -Jornalista, assessor de investimentos e fundador do Monitor do Mercado e do Monitor Investimentos.
Em dois dias, três grandes autoridades da República falaram em privatizar a Petrobras: o presidente Jair Bolsonaro, o ex-super-ministro (hoje ministro) Paulo Guedes e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Em tempos normais, as notícias seriam o bastante para movimentar o mercado. Nesta quinta-feira (14), no entanto, os papéis da petroleira (PETR4) andaram de lado, como se diz. Subiram coisa de 0,17%. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, caiu 0,24%.
Fica fácil ver que os investidores não levam fé no que dizem os três. A falta de clima para discutir o assunto no Congresso é óbvia.
O time governista segue alimentando-se quase que exclusivamente de uma interminável campanha eleitoral.
Bolsonaro não é o primeiro a governar pensando na reeleição, claro, mas tinha nas mãos o poder de ser o último. Enquanto faz campanha, vê minguar sua credibilidade entre players do mercado.
Campanhas vivem de declarações, não de fatos. Ampliar o período delas de olho na próxima disputa é tirar qualquer confiança dos grandes investidores de que há um projeto a ser encaminhado nesse país em desenvolvimento chamado Brasil.
A saída de Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização, do governo há pouco mais de um ano escancarou como os planos de privatização apresentados pelo governo eram pura fantasia.
Quando tomou posse como ministro da Economia, o então posto Ipiranga, Paulo Ricardo Nunes Guedes, anunciou que arrecadaria R$ 1,25 trilhão com as privatizações. Passaram-se os dias, meses e anos. As referências aos números foram sumindo dos comunicados oficiais.
Para tentar animar a turma que acreditou na numerologia, de tempos em tempos o Ministério da Economia divulga uma lista de empresas a serem privatizadas, com prazos e tudo.
No fim do ano passado, divulgaram que até o fim de 2021 nove estatais estariam nas mãos do setor privado, entre as quais Correios e Eletrobras. O ano acaba daqui a um mês e meio.
A falta de reação do mercado às falas de Bolsonaro, Guedes e Lira em relação à privatização da Petrobras lembra a fábula do Pastor Mentiroso e o Lobo, de Esopo.
De tanto gritar “lobo!” só para chamar a atenção dos camponeses, o pastor perdeu a credibilidade e, no fim, assistiu suas ovelhas sendo devoradas, já que ninguém mais vinha ao seu socorro.
Sem credibilidade nos mercados globais, não há aumento da Selic capaz de atrair capital estrangeiro. E as chances de haver um novo evento como a pandemia para culpar são (felizmente) baixíssimas.
Para quem busca oportunidades na crise, a alta da taxa de juros pode trazer consigo uma leva de bons títulos de renda fixa. Como o dinheiro nos bancos fica “mais caro”, a tendência é que mais empresas emitam títulos, como debêntures, CRIs e CRAs, em busca de viabilizar seus projetos. E remunerem bem por isso.
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