Gostei de "The Right to Sex" (o direito ao sexo), da filósofa Amia Srinivasan. Ela consegue ao mesmo tempo abraçar posições feministas e desenvolver uma reflexão honesta e não dogmática sobre o movimento, não raro expondo contradições que os grupos mais interessados em vencer batalhas do que em promover o bom debate prefeririam esconder. Melhor ainda, a autora consegue manter-se antiautoritária sem deixar de problematizar o que podemos chamar de "laissez-faire" sexual. Concordo com algumas de suas conclusões e discordo de várias outras, mas não há como não apreciar a clareza e a profundidade de seus argumentos.
Meu plano era fazer observações sobre "o direito ao sexo", nome do ensaio que dá título ao livro, mas como o João Pereira Coutinho foi mais rápido que eu, passo a outra questão polêmica: é correto universidades proibirem professores de relacionar-se sexualmente com estudantes? Fugindo um pouco a seu antiautoritarismo, Srinivasan pensa que esse é um caso em que o consentimento das partes não basta para tornar a relação ética. Mesmo que ambos desejem o sexo, quando ele se concretiza o princípio pedagógico, que deveria orientar as interações entre professores e alunos, é subvertido, e a tarefa de ensinar fica prejudicada, se não interditada. A analogia aqui é com o psicanalista que se envolve romanticamente com o analisando.
De novo, é difícil rejeitar os argumentos da autora, mas, se professor e estudante estiverem ambos dispostos a trocar a relação pedagógica pela sexual, por que não poderiam fazê-lo? Não estamos falando aqui de desistir do magistério, no caso do primeiro, ou da educação universitária, no do segundo, mas de abrir mão de um aluno entre muitos e de uma disciplina entre várias. Não consigo abandonar a ideia de que, ao fim e ao cabo, é só o consentimento que deve dar as cartas. Entre a burocracia universitária e o amor, fico com o amor.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 31.out.2021 - Annette Schwartsman
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