Numa economia fragilizada pela inflação alta, pelo desemprego, por dificuldades que se acumulam no cenário internacional e pela falta de rumo do governo Bolsonaro, a indústria mostra fragilidade ainda mais acentuada. Em setembro, pela quarta vez consecutiva, a produção industrial caiu em relação ao mês anterior. O resultado foi 3,9% menor do que o de um ano antes e ficou 0,2% abaixo do de agosto de 2021.
Em janeiro, a indústria brasileira chegou a registrar produção 3,5% maior do que a de antes da pandemia. Aquele poderia ter sido o ponto de partida de um período de recuperação. Não foi. “Vemos uma produção industrial que vem se caracterizando, ao longo de 2021, por um comportamento negativo em sequência”, afirma o gerente de coordenação da indústria do IBGE, André Macedo.
Os números evidenciam essa tendência. Em nove meses, o resultado da indústria brasileira foi negativo em sete. O nível da produção está 3,2% abaixo do observado em fevereiro do ano passado, antes do início da pandemia de covid-19, e 19,4% menor do que o de maio de 2011, quando alcançou o melhor resultado dos últimos anos.
Os efeitos da pandemia parecem estar sendo mais intensos e mais duradouros, com desdobramentos inesperados, para a indústria de transformação do que para outros segmentos da economia. Além dos problemas que, no Brasil, afetam toda a atividade econômica e o orçamento das famílias – como inflação, desemprego, perda de renda real, crise hídrica, incertezas geradas e amplificadas pela desarticulação das políticas econômica e fiscal do governo –, a indústria, sobretudo a de transformação, enfrenta um particularmente complicado. Trata-se dos gargalos nas cadeias de suprimento.
O problema é tanto mais agudo quanto maior o número de matérias-primas, insumos e componentes utilizados no processo produtivo. Nesse sentido, a indústria de transformação é mais afetada; e, na indústria de transformação, o segmento produtor de bens duráveis é o que tem mais problemas. A indústria automobilística é o exemplo mais visível dos efeitos dos gargalos nos suprimentos. A falta de componentes eletrônicos, problema que atinge a economia mundial, tem levado à paralisação de linhas de produção e à sensível redução da produção de veículos.
Mas a redução da atividade industrial é ampla. A demanda, contida pelos altos índices de desemprego e pela estagnação ou até queda da renda dos consumidores, por causa da inflação, inibe a produção em outros segmentos industriais.
Na comparação com o ano passado, a indústria apresentou em setembro resultados negativos em três das quatro grandes categorias econômicas em que o IBGE divide o setor, 18 dos 26 ramos, 45 dos 79 grupos e 55,7% dos 805 produtos pesquisados. Entre os principais resultados negativos, destacam-se os dos produtos alimentícios (queda de 11,9%) e veículos (redução de 7,9%).
Enfrentando sérias dificuldades de crescimento há anos, a indústria brasileira agora tem também novos obstáculos que a pandemia colocou na sua rota de recuperação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário