Deveriam ser dias dedicados a meditação e orações, mas descambei, de forma mundana, a me questionar sobre o que é fazer política?
O que leva uma pessoa a abdicar de sua zona de conforto, compartilhada na família, entre amigos, no trabalho, para disputar a confiança da sociedade na busca de votos?
Faça um teste. Pergunte ao seu candidato predileto, aquele que você confia e que supõe conhecer, qual a razão para que ele suba nesse ringue de vale tudo?
Se você obtiver apenas respostas evasivas: “A democracia exige sacrifícios! Precisamos mudar o Brasil!”
Esqueça!
Agora, se ele lhe disser: “É pelo poder!”, preste atenção no que a pessoa vai lhe apresentar.
Ele tem a coragem moral que a maioria dos pretendentes a cargos políticos deixa nos cueiros.
O poder em si não é um mal. É estimulante. É combustível para se alcançar êxito em empreitadas desafiadoras. Sem ele não há Estado e nem governo.
O imprescindível é ter o controle sobre a forma como ele está sendo exercido a seu nome. O cargo eletivo, sendo uma procuração temporária, não concede amplos poderes.
Há ferramentas consolidadas no mundo democrático e disponíveis para utilização pela sociedade.
O voto é, naturalmente, a mais poderosa delas.
Infelizmente, quando mal utilizado, pode levar ao poder extremos indesejáveis ou incompetentes bafejados pela sorte.
Outra ferramenta é a elaboração de um projeto de governança – pouco respeitado em nosso processo – que revele os princípios sob os quais o político virá a exercer o mando. Servirá de balizamento tanto aos seus propositores, como aos cidadãos fiscalizadores.
Fomos forçados a tomar assento nas arquibancadas do circo eleitoral antecipadamente. Uma consequência de os pré-candidatos e suas agrupações políticas serem compelidos a buscarem um melhor posicionamento na vitrine das próximas rondas eleitorais.
Alguns analistas dizem que o movimento é prematuro. Eu discordo. Afinal, os detentores do poder já estavam em plena campanha, valendo-se de eventos públicos, até dos mais simplórios, para agitar seus correligionários.
“O erro de muitos políticos é esquecer que foram eleitos; ficam achando que foram ungidos” (Claude Pepper). Os nossos foram se inebriando, se corrompendo até ferirem de morte os sonhos da maioria de seus eleitores que perdeu a fé.
Gostaram do mel que o poder produz. Não querem deixar de apreciar o seu doce sabor. Namoram elogios e, sem afeição por leitura, desconhecem Voltaire: “Os elogios são o protocolo dos tolos”.
Farão, portanto, seguidas manobras lícitas ou espúrias para continuar a ter acesso ao favo gigantesco da abelha rainha – o Estado brasileiro.
Pois bem, já que tomamos assento na plateia, vamos acompanhar o espetáculo atentamente.
Observar os bons e maus atores.
Reforçar as nossas consciências.
Abdicar dos estereótipos maniqueístas.
Não se levar por atitudes carnavalescas de pierrôs embriagados. O poder nunca foi deles. Será sempre seu!
Imponha a sua vontade no momento adequado – a solidão da urna eletrônica. Escolha um governante que queira o poder do bem. Que saiba usar essa energia para a construção de um país mais justo e soberano.
O tempo está expirando e poderemos soçobrar diante do quadro que se formou pelo poder bem exercido.
Paz e bem!
OTÁVIO SANTANA DO REGO BARROS General de Divisão da Reserva do Exército. Foi porta-voz da Presidência da República.
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