quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

MORRE VITAL NOLASCO

Da Gazeta de S.Paulo

Vital foi o criador da lei do 'passe livre' para desempregados, entre muitas outras iniciativas

Faleceu nesta quarta-feira (19) Vital Nolasco, uma das mais importantes lideranças negras que lutaram contra o regime miltar de 1964. Ex-vereador da cidade de São Paulo e operário aposentado, ele morreu aos 75 anos, no Hospital Samaritano, onde estava internado há 14 dias para um tratamento de fibrose pulmonar.

O corpo de Vital será velado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi, no bairro da Liberdade, na capital paulista, e será será cremado, conforme seu pedido. O texto conta com informações da Revista Raça.

Mineiro de Belo Horizonte, Eustáquio Vital Nolasco nasceu em 1946 e iniciou seu ativismo político na Juventude Operária Católica (JOC), na qual integrou a resistência ao regime militar (1964-1985). Ele participou de uma das primeiras greves do Brasil a denunciarem a ditadura, a greve dos metalúrgicos de Contagem, em 1968.

Por conta deste episódio, ele teve seu nome “fichado” pelos núcleos de repressão e teve de se mudar para São Paulo. Ainda assim, foi preso e torturado. Depois da JOC, Vital passou a integrar a Ação Popular (AP) e, em 1972, juntou-se ao PCdoB – Partido Comunista do Brasil, ainda clandestinamente. Contribuiu para o Movimento contra a Carestia e, posteriormente, retomou a atividade de operário. Fez parte da oposição e, mais tarde, da direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes.

O então líder sindical se tornou vereador de São Paulo por dois mandatos (1989-1996), apoiado pelo eleitorado operário, a comunidade negra e de outras frentes que representava. Foi Vital quem criou a lei do "passe livre" para desempregados. Também idealizou uma memorável homenagem ao líder sul-africano Nelson Mandela, que viajou especialmente a São Paulo para participar da sessão solene. Proporcionou reconhecimento também a Maria do Carmo Jerônimo, mulher negra nascida escrava e que à época era a mais velha do mundo.

Já aposentado das fábricas, idealizou diversas iniciativas partidárias. Foi presidente do PCdoB São Paulo (1997), secretário nacional de Movimentos Sociais (1997-2003) e, posteriormente, secretário municipal de Movimento Sindical (2015-2021).

O expoente do movimento negro teve sua biografia lançada em 2016. A obra “Vale a Pena Lutar – Minha Vida na Ação Popular (AP) e no Partido Comunista do Brasil (PCdoB)” teve narração de Vital e organização do jornalista Osvaldo Bertolino. 

As palavras finais deste livro ilustram a trajetória militante ímpar de Vital. “Tudo que sou devo, além da minha formação familiar e da experiência de vida, ao PCdoB, que me ensinou o valor do humanismo e da solidariedade. Não tenho nenhum arrependimento. Se pudesse voltar atrás, faria tudo de novo; claro que corrigindo alguns detalhes. Diria que valeu e vale a pena lutar.”

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