Quando a pandemia começou, Bolsonaro e seus ministros subestimaram seu impacto na vida dos brasileiros. Temos hoje mais mortos e mais desempregados do que o esperado por membros do governo. Sucessivamente, incitaram aglomerações, recomendaram remédios comprovadamente ineficazes, tentaram boicotar a vacinação, fizeram pouco-caso dos brasileiros que sofriam com a covid-19 e de seus familiares e deixaram um vácuo em programas sociais que poderiam amortecer os impactos da crise econômica gerada pela pandemia.
É costume de Bolsonaro estar do lado errado da história. Em 1994, ele votou contra o Plano Real – um plano que salvou o País da inflação descontrolada. Em 1995 e 1996, ele também votou contra PECs importantes que acabavam com o monopólio estatal sobre o petróleo e telecomunicações.
Desta vez, não foi diferente. Bolsonaro visitou a Rússia enquanto Putin escalava seu discurso antiliberal. Ele disse que, “coincidência ou não”, as tropas russas haviam recuado depois de sua visita a Moscou. Ontem, o ministro do Turismo, Gilson Machado, afirmou que Bolsonaro levou uma mensagem de paz ao presidente russo, “mas depende do Putin se vai ouvir ou não”. Também ontem o presidente saiu em mais uma de suas motociatas. Episódios que são uma mistura de fake news, pós-verdades e realismo fantástico repulsivo.
O Brasil recentemente recebeu fluxos estrangeiros. Parece ter havido a percepção de que o diferencial de juro tornou o País mais atraente. É difícil acreditar que esta quase animação possa ser sustentada em um ambiente de guerra na Europa.
Guerras despertam o horror. Com a Ucrânia, não deve ser diferente. Sempre é possível racionalizar uma guerra de escolha apresentando-se motivos econômicos e políticos para seu acontecimento. No entanto, um conflito militar se materializa também por conta da personalidade do líder que a iniciou.
O presidente russo, Vladimir Putin, revela em seus discursos uma mentalidade imperialista. Um corolário disto é o autoritarismo. Ele desrespeita Estados-Nação, normaliza anexações de territórios, atua contra direitos humanos e boicota ideais liberais. O presidente brasileiro deixou claro, mais uma vez, que lado escolheu. Chamou Putin de “amigo” e disse ter “valores comuns” com o líder russo durante a viagem feita neste momento inoportuno. O Brasil é um ativo de risco pela economia política e pela personalidade do seu líder.
*PROFESSORA DO INSPER, PH.D. EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE NOVA YORK EM STONY BROOK
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