O governador Rui Costa, da Bahia, acha que o PT deveria conversar com economistas de outras visões e com pessoas de todo o arco da sociedade, “porque para colocar o Brasil nos trilhos vai ser preciso a ajuda de muita gente e um pacto de governança”. Ele concorda com o senador Jaques Wagner de que o PT precisa de humildade durante o processo eleitoral e, se ganhar, para governar o Brasil.
— A situação está muito pior do que quando Lula assumiu em 2003. Nós tínhamos naquela época um país mais estável, com ferramentas e possibilidades macroeconômicas muito maiores do que temos hoje. Com imagem e credibilidade no exterior. O cenário interno e internacional era mais favorável. Temos que ter a dimensão do desafio e a noção de que precisamos de muitas pessoas para colocar o Brasil de volta nos trilhos —afirmou. Eu o entrevistei na Globonews.
Perguntei se o PT havia errado ao chamar de “herança maldita” a administração de Fernando Henrique Cardoso. Ele respondeu: “Sem dúvida.” E voltou a falar nos terríveis indicadores de hoje, inflação, desemprego, queda da credibilidade, aumento da pobreza, a fome de volta:
— É preciso um grande arco de aliança, sendo muito objetivo, um arco de governança. Historicamente, e eu já ouvi isso dentro do PSDB, essa polarização excessiva começou em São Paulo e levou os dois partidos, PT e PSDB, que tinham propostas comuns de social-democracia, a tornarem-se antagônicos.
Na economia, o governador Rui Costa também defende uma gestão próxima do setor privado. Na Bahia, houve muitos projetos em parceria com a iniciativa privada:
— A população quer ser bem atendida, não quer saber de quem é a gestão. Muitas vezes se colocou o interesse das corporações acima dos interesses da gestão pública. Com a queda da capacidade fiscal da União, até pior do que a dos estados, é necessário lançar mão de parcerias com o setor privado para alavancar investimentos em várias áreas, como infraestrutura e logística.
Rui Costa disse que vai anunciar só no dia 13 a solução do quebra-cabeças estadual. O PT na Bahia governa numa grande coalizão que tem o PP, do vice-governador João Leão, e o PSD, do senador Otto Alencar, que pode vir a ser o candidato do grupo ao governo do estado. Está entre Otto e Jaques Wagner. O governador, no entanto, disse apenas que está havendo diálogos entre os grupos políticos — o PSB faz parte também — para ver qual é a melhor composição. Não afasta a possibilidade de permanecer até o fim do mandato. Perguntei então se ele poderia vir a ser ministro, caso Lula ganhe a eleição. Ele disse que esse tipo de cargo é da escolha de quem é eleito. Costa esteve recentemente com o ex-presidente Lula e o descreve assim:
— Lula está com a cabeça ótima. Uma pessoa que passou o que ele passou e está sereno. Eu apoio e acho positivo o aceno ao governador Geraldo Alckmin e alguns dizem que ele não agregaria voto. Não é uma questão de contabilidade de voto, é sinalizar para a sociedade como nós pretendemos governar. Queremos governar abraçando o Brasil, mobilizando segmentos para fazer um grande pacto nacional que permita o crescimento, a geração de emprego e renda. Esse país precisa de estabilidade política, institucional e um pacto de longo prazo, não apenas para um governo, mas para planejar o longo prazo.
Quis saber por que não foi possível o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro. A relação entre ele e os governadores sempre foi conflituosa, principalmente os do Nordeste:
— O atual governo é um vazio de conteúdo em todas as áreas. A lógica de Bolsonaro é, para manter seu grupo mobilizado, agredir, agredir, agredir. Minha surpresa não é com ele, é que 25% da população o acompanhe. É decepcionante, porque ele é uma pessoa completamente desqualificada, vazia, sem a menor capacidade de administrar o país.
Perguntei a ele o que o ex-presidente Lula quer dizer com regulação da mídia. Rui Costa disse que não conversou com ele sobre isso. Citou as redes de mentira na internet, mas ao mesmo tempo falou de modelos que regulam “a propriedade, mas não o conteúdo do que é divulgado”.
Sobre a federação, Costa disse que é boa ideia para diminuir o número de partidos, mas que não faz sentido atrelar o acordo nacional com a administração municipal a ser eleita daqui a dois anos.
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