O fracasso está subindo à cabeça da chamada terceira via. Seus candidatos comem poeira nas pesquisas, mas insistem em se vender como salvadores da pátria. Sem modéstia, sugerem que o país vai acabar se eles não forem ungidos ao poder.
Ontem dois presidenciáveis voltaram a apostar no discurso apocalíptico. Em seminário promovido pelo banco BTG Pactual, João Doria previu uma fuga de empresários caso Lula e Jair Bolsonaro passem ao segundo turno.
“O risco de vocês começarem a pensar em não permanecer no Brasil será enorme. Será que é isso o que a gente quer?”, questionou. Um ouvinte distraído poderia confundi-lo com Mario Amato, o industrial que projetou a debandada de 800 mil empresários se Lula vencesse Fernando Collor em 1989.
Mais cedo, Sergio Moro defendeu uma “união contra os extremos”, desde que não tenha que desistir da própria candidatura. Ele orientou os banqueiros a “tomar cuidado” e disse que o país pode estar a caminho de uma “situação pior”. “Se não for expropriado o BTG…”, gracejou.
Doria e Moro pregaram para convertidos. No auditório de um hotel cinco estrelas de São Paulo, prometeram reformas, austeridade e privatizações. Os dois foram aplaudidos pela plateia de endinheirados. O problema é que ninguém chega ao Planalto com os votos do Leblon e dos Jardins.
Metade do eleitorado brasileiro tem renda familiar de até dois salários mínimos. Em dezembro, 70% desse público se dividiam entre Lula e Bolsonaro. Todos os outros candidatos somavam 18% das intenções de voto no Datafolha. A turma não consegue engrenar porque não sabe o que dizer aos mais pobres. A cartilha liberal pode seduzir viúvas de Paulo Guedes, mas é incapaz de atrair quem está na batalha pela sobrevivência.
O apelo ao terrorismo econômico não é o único sinal de desespero na direita que se desiludiu com Bolsonaro. Nos últimos dias, apóstolos da terceira via tentaram ressuscitar a candidatura de Eduardo Leite. Derrotado nas prévias tucanas, ele viraria casaca e ressurgiria no PSD de Gilberto Kassab. Se o plano se concretizar, já entrará no páreo com a pecha de mau perdedor.
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