domingo, 20 de março de 2022

BOLSONARO E SEUS BACHARÉIS

Luís Francisco Carvalho Filho, Folha de S.Paulo

Advogado criminal, presidiu a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (2001-2004).

Aos pouquinhos, Jair Bolsonaro vai se assenhorando do sistema judicial, "obra" que completará em caso de reeleição.

Já são dois ministros do Supremo —um terrivelmente evangélico, outro, pelo menos até agora, terrivelmente subserviente (condecorado como "Grande-Oficial da Ordem de Mérito Militar") e disposto a agenciar a promoção de juízes federais simpáticos.

É público e notório que o procurador-geral da República é homem de Bolsonaro. O vice de Augusto Aras que atua no Tribunal Superior Eleitoral é Paulo Gonet, um ex-concorrente: fez parte da lista de candidatos a procurador-geral que Bolsonaro considerou em detrimento da lista tríplice resultante da votação da categoria.

Membro da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada no governo de Fernando Henrique em 1995, Gonet é apadrinhado pela deputada que defende o voto impresso Bia Kicis (PSL-DF) e que divulgou a afirmação do procurador em sabatina informal do presidente: "não vai atrapalhar".

Nem Aras nem Gonet se contrapõem à conspiração de Bolsonaro contra a urna eletrônica. Gonet, "conservador raiz, cristão", é provável sucessor de Aras em caso de reeleição.

O mundo da Justiça dá voltas e o país está acostumado.

Juízes severos se revelam corruptos. Juízes arbitrários, no final, beneficiam réus que tanto perseguem.

Francisco Rezek, ministro talentoso e liberal do Supremo, nomeado por Figueiredo em 1983, vira ministro das Relações Exteriores de Collor de Mello em 1990, que o nomeia de volta, dois anos depois, ministro do Supremo.

O juiz federal Sergio Moro vira ministro da Justiça e (depois) inimigo de Jair Bolsonaro.

Aras acabou com a Lava Jato, mas um atuante procurador da força-tarefa em Curitiba, que tanto constrangimento criou para a candidatura de Lula em 2018, foi recrutado para o gabinete de Gonet, que, em princípio, deveria emitir sinais de isenção.

Com a vaga aberta pela saída do ministro Tarcisio Vieira, no TSE, Jair Bolsonaro nomeia ministra substituta a advogada apoiada com entusiasmo pela Associação Nacional dos Juristas Evangélicos.

O renomado escritório de advocacia de Tarcisio Vieira (reconduzido ao cargo por Jair Bolsonaro em 2019, até maio de 2021) agora defende Bolsonaro na Justiça Eleitoral. O ex-ministro (por oito anos) do TSE que Bolsonaro tanto fustiga mostra-se "muito honrado com a confiança depositada".

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