A agitação golpista promovida pelo presidente da República produz efeito deletério sobre sua imagem pública. Não foi a primeira vez que o Datafolha detectou coincidência entre um surto de arruaça, de um lado, e a impopularidade elevada de Jair Bolsonaro (PL), do outro.
O auge da avaliação ruim ou péssima da administração federal (53%) foi registrado nas pesquisas de setembro e dezembro de 2021, posteriores à epifania subversiva do Dia da Independência.
À relativa trégua do mandatário se seguiu um princípio de recuperação —apurado na pesquisa de março, quando a reprovação baixou para 46%—, abortado agora (48%), após nova investida contra as instituições da democracia.
As imprecações obstinadas de Bolsonaro contra a votação eletrônica mostraram-se igualmente inúteis para desmobilizar a vasta maioria de brasileiros que afirma confiar nas urnas. Ela caiu de 82% para 73% de março para cá, basicamente pela dúvida incutida na própria base bolsonarista, que ainda assim mais confia (58%) que não confia (40%) no sistema.
Pregar para convertidos em tema de insubordinação aos cânones democráticos afugenta do apoio ao presidente largos contingentes do eleitorado nacional. A rejeição maciça a Bolsonaro por seu turno se reflete em sua larga desvantagem na corrida para a reeleição, o que torna ainda mais postiças e débeis a gritaria sobre fraudes e as insinuações sobre viradas de mesa.
É a economia, no fim das contas, que vai minando a viabilidade da administração Jair Bolsonaro. Se a algazarra golpista se destina a despistar a atenção do público desse terreno minado para o situacionismo, também falha no objetivo.
A aceleração inflacionária deflagrada pela guerra no leste da Europa, novo choque externo a abater-se sobre o Brasil, escancarou —como havia feito a pandemia de coronavírus— a profunda incompetência da equipe ministerial e do presidente da República em especial.
Os cabeceios populistas contra a Petrobras e governadores de estado são sintomas dessa deficiência insanável de capacidade técnica e política para organizar uma saída crível que mitigue os efeitos da carestia sobre a metade mais pobre da população, justamente a que rejeita Bolsonaro em altíssimo grau.
Mas para isso seria necessário um presidente capaz e que trabalhasse de sol a sol —este não desperdiça oportunidade de passear de motocicleta e gozar folgas douradas no litoral à custa do contribuinte.
O golpismo e a agitação fácil também tecem uma manta conveniente para quem não se estabelece pelos próprios méritos. O que as pesquisas de opinião estão mostrando objetivamente é que nada disso funciona. É confusão para nada.
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