Corpo do Cardeal Cláudio Hummes é velado na Catedral da Sé
O corpo do Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo emérito de São Paulo, está sendo velado nesta segunda-feira (4) na Catedral Metropolitana de São Paulo, a Catedral da Sé, na região central da capital. Hummes morreu na manhã desta segunda em São Paulo, aos 87 anos, informou o Cardeal Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo. O cardeal tratava um câncer.
O velório começou nesta segunda às 19h15, quando o corpo chegou à Catedral da Sé, e vai até quarta-feira (6), às 10h. Serão presididas missas pelo Cardeal Odilo Scherer na segunda às 20h, na terça-feira (5), às 12h, e na quarta-feira (6), às 10h.
O sepultamento acontecerá após a Missa das 10h da quarta-feira (6), na Cripta da Catedral.
Franciscano, "Dom Cláudio", como era conhecido, era um dos arcebispos mais influentes na Santa Sé. Em 2013, no Conclave que escolheu o Papa Francisco, Cláudio estava sentado ao seu lado. Em entrevista para a imprensa, Jorge Bergoglio revelou que a escolha do nome Francisco foi inspirada por Cláudio.
"Ao meu lado, nas eleições, estava o arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, cardeal Cláudio Hummes, um grande amigo. Quando a situação ficava um pouco perigosa, ele me consolava. Quando os votos chegaram aos dois terços, começaram a aplaudir, porque o papa tinha sido eleito. E ele me abraçou, me beijou e disse: ‘Não se esqueça dos pobres’. E aquela palavra entrou na minha cabeça: os pobres. Pensei em Francisco de Assis”, explicou o Papa na época.
Nascido em 8 de agosto de 1934, em Montenegro (RS), Cláudio Hummes dedicou-se à vida da Igreja desde os 17 anos de idade, quando ingressou na Ordem dos Frades Menores – franciscanos – em 1º de fevereiro de 1952, e manteve-se na ativa até março de 2022, quando já com a saúde debilitada, em decorrência do câncer, renunciou ao cargo de Presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).
Hummes também ocupou a função de Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, e da recém criada Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).
Em 2019, no Sínodo da Amazônia, em Roma, Dom Cláudio defendeu a demarcação de terras indígenas.
“Nós sabemos que, para os indígenas, isso é fundamental. Também as reservas geograficamente delimitadas são importantíssimas para a preservação da Amazônia", declarou em coletiva de imprensa no Vaticano no Sínodo.
Encontro com Dalai Lama
Em 29 de abril, na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, o líder espiritual e temporal do povo tibetano, o dalai-lama Tenzin Gyatso, foi recebido por autoridades de diferentes religiões, e entre eles o cardeal Hummes.
Dom Claudio abriu a celebração e ressaltou o “forte simbolismo” daquele encontro. Para o Cardeal, aquele ato era manifestação “de que nos respeitamos e queremos que nossas religiões cultivem a tolerância e o respeito mútuos”.
Dom Cláudio lembrou que considera "sua Santidade dalai-lama como alguém mundialmente reconhecido como construtor da paz e da tolerância entre os povos e religiões” e que, “nós cristãos, por nossa própria fé, estamos comprometidos com a construção da paz, do amor, da solidariedade”.
Ao encerrar, Dom Cláudio pediu a Deus “que abençoe esse nosso encontro e o faça frutificar”. “Caro, dalai-lama, Vossa Santidade é muito bem-vinda entre nós”.
Biografia
Aos 17 anos de idade, Cláudio ingressou, em 1952, na Ordem dos Frades Menores – franciscanos. Ordenado sacerdote em 1958, foi enviado a Roma, onde obteve o doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Antonianum, em 1963.
Nomeado Bispo por São Paulo VI, em março de 1975, Dom Cláudio Hummes assumiu a Diocese de Santo André (SP), em dezembro do mesmo ano, e ali permaneceu por 21 anos, até 1996, quando foi nomeado para a Arquidiocese de Fortaleza (CE).
NoABC, Dom Cláudio Hummes acompanhou de perto o movimento operário no Brasil, incluindo a histórica greve geral do metalúrgicos do ABC no fim da década de 1970. Muitas vezes, ele abriu as portas da Catedral de Santo André para assembleias, presidiu missa com a participação dos grevistas e posicionou-se contra as demissões dos manifestantes.
Em Fortaleza, entre 1996 e 1998, Dom Cláudio coordenou um trabalho com as famílias mais pobres.
Em 1998, São João Paulo II o nomeou como Arcebispo de São Paulo, onde permaneceu até 2006, tendo sido feito cardeal pela Papa em 2001.
Entre 2006 e 2010, nomeado pelo Papa Bento XVI, Dom Cláudio foi o Prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano. À época, o Cardeal Hummes foi responsável por mais de 400 mil sacerdotes espalhados pelos cinco continentes.
Na COP21, em dezembro de 2015, o cardeal manifestou irrestrito apoio ao modo de vida dos indígenas: “é preciso defendê-los, defender seus direitos, dar-lhes de novo a possibilidade de serem os protagonistas de sua história, os sujeitos de sua história. Deles foi tirado tudo: a identidade, a terra, as línguas, sua cultura, sua história, tudo”.
De volta ao Brasil, foi nomeado Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cargo que exerceu até 2019.
Em junho de 2021, após Dom Cláudio Hummes ter recebido o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional de Rosário (UNR), da Argentina, o Papa Francisco escreveu-lhe, agradecendo-o pelo “exemplo que me deu durante a sua vida”, e recordando duas frases que ficaram na história, pronunciadas pouco depois de ter sido eleito Papa, quando Dom Cláudio lhe disse: “é assim que o Espírito Santo age”; e “não se esqueça dos pobres”.
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