segunda-feira, 26 de setembro de 2022

OS SALÁRIOS AINDA PERDEM DA INFLAÇÃO

Editorial O Estado de S.Paulo

Os reajustes salariais médios não ganham da inflação desde setembro de 2020. Mesmo renunciando a benefícios adicionais nas negociações com os empregadores, boa parte dos trabalhadores com emprego formal tem perda de renda real. Por causa do baixo desempenho da economia e da deterioração do mercado de trabalho até há pouco, diferentes categorias profissionais enfrentaram e ainda enfrentam dificuldades para fechar acordos e convenções coletivas que assegurem reajustes salariais maiores do que a inflação.

Em agosto, por exemplo, 43,4% dos reajustes ficaram abaixo da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 12 meses, de acordo com o boletim Salariômetro.

O estudo é elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) com base nas negociações coletivas por meio de acordos (entre empresas e seus empregados) e convenções (entre categorias econômicas e profissionais) registrados no Ministério da Economia. O reajuste superou a inflação em 30,2% das negociações, mas o reajuste mediano, de 10,1%, empatou com a inflação.

Tem sido assim ao longo de 2022. De 12.621 negociações coletivas examinadas pela Fipe nos oito primeiros meses de 2022, em apenas 634 (5% do total) o reajuste superou a inflação. Ainda assim, os ganhos reais foram modestos, abaixo de 1%. A correção mediana dos salários para todo o ano é igual à inflação.

No primeiro semestre, houve mês em que o Salariômetro se referiu a um “quadro sombrio na mesa da negociação”. Isso ocorreu no relatório referente ao mês de abril, quando apenas 7,6% das negociações produziram aumento mediano acima da inflação e 47,0% resultaram em reajuste menor do que a inflação.

Tem havido alguma melhora, por causa das transformações por que passa o mercado de trabalho. A taxa de desocupação aferida pela Pnad Contínua do IBGE vem caindo há vários trimestres e, depois de ter superado 14% no auge da pandemia, baixou para 9,1% no trimestre encerrado em julho. A renda real média do trabalho voltou a crescer ao longo deste ano, mas, na última pesquisa, ainda era inferior à de um ano antes.

Ainda levará tempo para que o quadro das negociações coletivas de salários, benefícios e condições de trabalho retorne ao observado até antes do início do atual governo federal. De 2007 a 2018, com exceção dos anos da crise do governo Dilma (2015 e 2016), a grande maioria das negociações assegurou reajustes salariais superiores à inflação. Em 2012, o melhor ano do período para os salários, nada menos do que 94,2% das negociações asseguraram ganhos reais. O quadro mudou em 2019 e foi agravado pela pandemia em 2020. O resultado de agosto ainda mostra dificuldades para os trabalhadores, mas já há sinais de mudanças.

É possível que, com a gradual redução da inflação e a recuperação do mercado de trabalho, propiciada pela retomada das atividades presenciais e por estímulos ao consumo oferecidos pelo governo, mais e mais categorias profissionais venham a obter ganhos reais nas próximas negociações coletivas.

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