O bolsonarismo é um valhacouto de malfeitores, assassinos, facínoras, ladrões, pedófilos, farsantes, mentirosos, pervertidos e, sobretudo, golpistas. Entre os larápios condenados estão dois célebres presidiários: Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto. Costa Neto é um velho pistoleiro, criminoso do colarinho branco e preside o PL, onde o capitão se alojou em 2021 para disputar a presidência. O “boy”, alcunha do submundo da bandidagem, foi sentenciado em dezembro de 2013 a sete anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão e depois foi beneficiado por uma prisão domiciliar. Roberto Jefferson é outro frequentador das carceragens e, igualmente, beneficiário das liberalidades penais. Foi preso duas vezes e queixou-se do abandono do capitão. Pela roubalheira no mensalão foi parar na cadeia pela primeira vez em 2014. Ficou pouco tempo trancafiado, menos de 1 ano e meio dos mais de 7 anos da sentença. Retornou à cadeia após as pregações golpistas contra o STF em 2021. Recalcitrante, às vésperas da eleição de 2002, depois de uma prisão domiciliar transgressora, foi preso pela terceira vez. Mais grave: atirou 2 granadas e disparou 50 projéteis contra uma agente e um delegado da Polícia Federal em 8 horas de resistência contra a prisão. Roberto Jefferson é a síntese da quadrilha bolsonarista: ladrão, armamentista, fascista, miliciano, terrorista e golpista. Alexandre de Moraes, o homem da lei, vem enfrentando todo o bando com uma arma poderosa, a Constituição Federal, terrivelmente antifascista.
Jefferson premeditou um faroeste sanguinário para virar mártir. O tiro do crime desorganizado, entretanto, saiu pela culatra e pode ter sido fatal na definição da eleição, em que Bolsonaro sempre esteve em desvantagem e mirava os indecisos e moderados na reta final. Nas rajadas contra a ministra Carmen Lúcia, Jefferson tinha uma mira política nítida: voltar a ser preso para recarregar um discurso sobre o fictício favorecimento do STF/TSE ao candidato petista. “Fui rever o voto da Bruxa de Blair, da Carmen Lúcifer, na censura prévia à Jovem Pan, e não dá para acreditar. Lembra mesmo aquelas prostitutas, aquelas vagabundas, arrombadas, que viram para o cara e dizem: ‘Benzinho, no rabinho é a primeira vez’. Ela fez pela primeira vez. Abriu mão da inconstitucionalidade pela primeira vez. Bruxa de Blair, é podre por dentro e horrorosa por fora.” Após o disparo covarde de Jefferson, o capa-preta Alexandre de Moraes, determinou o trancafiamento do delinquente por descumprir as regras da prisão domiciliar. O que se viu na operação da PF para devolvê-lo à cadeia foi um tiroteio de excrescências. Roberto Jefferson, cumprindo prisão domiciliar, possuía um arsenal bélico ilegal, incluindo fuzis, 7 mil cartuchos e granadas – de uso restrito – que feriram dois integrantes da PF. Apostou numa reação armada que não veio e frustrou o roteiro de exploração política do episódio contra o Judiciário.
Inicialmente o capitão levou a mão ao coldre para relativizar a beligerância do aliado e atirar contra a decisão judicial: “Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem atuação do MP. Determinei a ida do ministro da Justiça ao Rio de Janeiro para acompanhar o andamento deste lamentável episódio”. A deferência inédita – enviar um ministro para acompanhar uma batida policial – com o propósito de blindar um protegido explodiu como uma granada dentro da PF. O órgão e o ministro saíram estilhaçados do “lamentável episódio”. Na sociedade o estrondo foi igualmente desastroso, obrigando o capitão a outro recuo. Oito horas depois, exatamente como no caso da pedofilia, gravou um vídeo onde baleou Jefferson: “bandido”. O cartucho para se livrar das inapagáveis vinculações com o “bandido” também falhou. Bolsonaro afirmou que não era próximo de Jefferson. “Não tem uma foto comigo, nada”. Explodiram dezenas de fotos e vídeos com eles. A ligação é tão promíscua que Eduardo Bolsonaro, graças ao pistolão do pai, foi servidor comissionado da liderança do PTB, entre 2003 e 2004, com salário de R$ 9,8 mil. O líder era Roberto Jefferson. Eduardo Bolsonaro morava no Rio de Janeiro e era funcionário fantasma em Brasília. Jefferson agora é um “bandido” que atira na PF. Eduardo Bolsonaro é agente da PF. Alguns radicais criticaram Bolsonaro pelo abandono do “bandido”. A patacoada furou.
Já na primeira estadia em Bangu, Jefferson descobriu que sua artilharia golpista não ribombava nos ouvidos do capitão, que ignorava tanto as vassalagens quanto as chantagens. Em uma das epístolas banguenses o miliciano e ladrão se lamuriava do amor bandido: “Bolsonaro é um homem honrado, mas não recolhe seus feridos. Sequer demonstra solidariedade com seus combatentes. Fiz duas cartas para ele. Nunca o PR (Presidente da República) mandou um cartão dizendo ‘saúde, minha solidariedade’. Ao contrário, ele se distanciou de nós manteve o silêncio obsequioso”. Diante do silêncio persistente, Jefferson metralhou: “O presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público. Esse vício é pior que o vício em êxtase. Quem faz sexo com êxtase tem o maior orgasmo ou ejaculação que o corpo humano de Deus pode proporcionar. Gozou com êxtase, para sempre dependente dele. Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporciona. Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio”. Típico enfrentamento de facções ávidas pelo tesouro da diligência pública.
O “bandido” Jefferson deu o tiro de misericórdia na campanha de Bolsonaro. A perfuração hemorrágica desnorteou o bando que, cambaleante, engatilhou uma denúncia fraudulenta sobre inserções da propaganda do capitão em rádios na Região Nordeste, onde Bolsonaro está crivado pelas balas da rejeição e perde por mais de 70% dos votos. A operação tabajara é ilógica e inconsistente. Uma suposta auditoria feita por uma empresa desqualificada para tanto (Audiency), paga pela campanha de Bolsonaro, apontou que 100 horas de inserções do capitão não foram veiculados. A soma das inserções dos dois candidatos no 2 turno é de apenas 9 horas e 35 minutos. Três das oito rádios têm como provar a veiculação e acusaram o PL de não entregar os programas. Algumas das emissoras citadas pertencem a bolsonaristas e a Justiça Eleitoral não tem nenhuma função na entrega, fiscalização e divulgação das mídias. O servidor que alimentou a denúncia é um trapalhão, assediador e bolsonarista conhecido por outros desmentidos públicos. Na iminência de ser abatido pelas urnas, Bolsonaro mentiu para transformar a eleição em um “saloon” de bandoleiros golpistas, mas foi abatido e abandonado. O xerife Alexandre de Moraes sacou rápido e arquivou a trapaça, abrindo um inquérito por crime eleitoral contra os vilões verdadeiros. O mesmo tiro dado nos empresários que conspiravam pelo golpe e outros bandoleiros fascistas.
Um deles, fiel à matilha raivosa do capitão, é o frequentador dos presídios, Daniel Silveira, preso duas vezes e que estava no covil de Jefferson durante a prisão. Condenado e inelegível foi derrotado nas eleições para senador no Rio de Janeiro, mesmo com o voto declarado do chefe do bando. Foi parar na cadeia pela primeira vez por ataques contra ministros do STF, em fevereiro de 2021. A segunda, por quebrar as regras do uso da tornozeleira eletrônica por cerca de 30 vezes. A prisão foi em razão de um vídeo fuzilando a democracia e fazendo salvas de tiro ao AI-5, o mais sanguinário ato institucional da ditadura militar. Ele também pregou a forca para ministros do Supremo Tribunal Federal, notadamente Edson Fachin. Usou ofensas semelhantes àquelas utilizadas pelo comparsa Jefferson (“nata da bosta”, “vagabundo”, “cretino” etc.). A prisão foi ratificada pela unanimidade do STF e confirmada pela Câmara dos Deputados. O pistoleiro das redes sociais, condenado a 8 anos e 9 meses de cadeia pela Suprema Corte, foi indultado por Bolsonaro. Silveira é sempre mostrado com a placa quebrada com o nome de Marielle Franco, vereadora chacinada pela milícia carioca cujos executores e mandantes são vizinhos milicianos do capitão. Bolsonaro deve ter razões para indultá-lo, afinal foi o único a quem ele ofereceu um colete de proteção.
O crime no bolsonarismo se desorganizou completamente na reta final da campanha. Arthur Lira, que detem a chave das munições estratégicas no paiol do orçamento secreto, também alvejou o comparsa Roberto Jefferson. O papel de carcereiro do dinheiro público, indefensável em uma democracia, lhe permitiu cobrar uma recompensa muito elevada na gestão do orçamento público que transformou em privado e secreto e ainda assim foi derrotado em Alagoas. Arthur Lira também é bem conhecido nas delegacias da delinquência. Foi condenado em duas ações por corrupção e disputa eleições com liminares. Os dois casos se referem à Operação Taturana, deflagrada em 2007 pela PF para apurar desvios na Assembleia Legislativa, onde Lira exerceu mandatos de 1999 a 2011. Foi acusado de se apropriar de verba de gabinete do Legislativo e de vencimentos de funcionários. Às vésperas da eleição de 2022 estourou o escândalo do “beco da propina” em Rio Largo, município cujo prefeito é aliado de Lira. Também tem digitais dele no kit robótica. Arthur Lira ostenta a curiosa proeza de ter sido “desdenunciado”, “desacusado” de corrupção pela procuradora amiga do governo, Lindôra Araújo, que o tornou um ex-vilão. Lira disse ser o homem de Bolsonaro em Alagoas: “ninguém representa mais Bolsonaro em Alagoas do que eu…ninguém vai roubar isso”. Roubar isso?
Eduardo Cunha é mais um criminoso da rede de delinquência bolsonarista. Cunha tem uma folha corrida de causar inveja aos comparsas e integra o “top ten” do banditismo. Acusado de mentir na CPI da Petrobrás, teve aberto contra si um processo que resultou na cassação por quebra de decoro, tornando-o inelegível até o final de 2026. Votaram pela absolvição apenas 10 parlamentares, entre eles Arthur Lira. Cunha engatilhou a caçada que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, uma vindita pelo PT não ter sido solidário a ele no processo no Conselho de Ética. Em março de 2016, o STF acatou por dez votos a zero a denúncia do então procurador-geral da República contra Cunha. Em 5 de maio de 2016, o plenário do STF unanimemente manteve a decisão do então ministro Teori Zavascki que determinou afastamento de Cunha do mandato de deputado federal e, consequentemente, do cargo de Presidente da Câmara. Em 19 de outubro de 2016 foi preso preventivamente pela PF e, em março de 2017, foi sentenciado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. No final de março de 2020 a prisão preventiva substituída pela domiciliar em razão da pandemia, por ser do grupo de risco. Foi derrotado em São Paulo na tentativa de voltar à cena do crime na Câmara dos Deputados.
Fabrício Queiroz defendeu Jefferson (ambos são do PTB), dizendo que ele não é “bandido”. Queiroz é amigo de Bolsonaro e foi apontado pelo MP como operador das ‘rachadinhas’. Queiroz, o senador Flávio Bolsonaro e outros 15 foram enquadrados por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O COAF mostrou movimentações de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Queiroz foi preso em Atibaia em junho de 2020 no tugúrio de Frederick Wassef, então advogado de Flávio. Depois obteve uma prisão domiciliar junto com a esposa que obteve o mesmo benefício, mesmo sendo foragida. O MP acusou Flávio Bolsonaro de liderar uma organização criminosa que teria desviado R$ 6 milhões da ALERJ através de “funcionários fantasmas” em cargos de confiança. A promotoria identificou mais de R$ 2 milhões repassados para a conta de Queiroz, que transferia o dinheiro pagando as despesas da família Bolsonaro, depósitos em contas bancárias do casal e transações imobiliárias. Ele também é o depositante dos R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro. Os parentes de Michelle Bolsonaro também são familiarizados com a bandidagem. A avó, falecida, foi encarcerada por tráfico. A mãe respondeu por falsificação de documentos e o tio João Batista Firmo Ferreira pegou 10 anos de prisão por integrar uma milícia que vendia lotes ilegais em Brasília.
A corrupção, de grosso calibre, espalhou estilhaços por todos os lados. Os casos se sucedem diante de um cinismo estarrecedor. Bolsonaro mente que há não roubo. Os casos vão se amontoando, empilhando nomes e surrupios inusitados: orçamento secreto, ônibus escolares superfaturados, tráfico influência, kits de robótica acima do preço, propinas nas vacinas da AstraZeneca e da Covaxin, caminhões de lixo com sobrepreço, 51 imóveis pagos em dinheiro vivo, rachadinhas, fábricas de chocolates, mansões mal-assombradas, dinheiro escondido em pneus, em cuecas e barras de ouro no MEC. O mar de lama escorre dentro de todo governo e, principalmente, no MEC. Dois pastores evangélicos foram abençoados com acesso privilegiado a diocese da Educação e cobravam propinas pela liberação de recursos. O ex-ministro disse que atendeu a pedidos de Bolsonaro: “Foi um pedido especial que o Presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, disse o ministro em um púlpito, que imaginava secreto.
O ex-líder de Bolsonaro no Senado, Francisco Rodrigues foi abatido ocultando perto de R$ 30 mil na cueca. O ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi alvejado e denunciado pelo laranjal do PSL. Ricardo Salles, ex-ministro e deputado eleito, é investigado por corrupção. Abraham Weintraub, que defendeu a prisão dos “malandros” do STF, rompeu com o facínora-mor. Onyx Lorenzoni pagou para escapar do crime confesso de caixa 2. Há ainda os crimes contra o Estado Democrático, pelos quais são investigados os filhos do presidente e diversos parlamentares. Nos delitos contra a democracia figuram o ex-secretário de Cultura, Roberto Alvim, que plagiou o nazista Joseph Goebbels; o ex-chefe da SECOM que produziu a peça publicitária com dizeres análogos ao campo de concentração de Auschwitz e o ex-chanceler Ernesto Araújo que equiparou o isolamento social aos campos de concentração. Sarah Geromini foi pioneira na prisão e no abandono. Ela, a exemplo de Roberto Jefferson, publicou fotos empunhando armas em gestos de intimidação a Alexandre de Moraes. Depois de 9 dias de cadeia veio a contrição: “Tem horas que eu só queria gritar, gritar e gritar para alguém me ajudar, mas não existe esse alguém, sabe? Aí eu lembro e volto para os conselhos do meu psiquiatra e vou ter que levantar e vou ter que resolver os meus problemas. E não tem Bolsonaro para ajudar, e não tem Damares para ajudar”.
A ex-deputada bolsonarista Flordelis, também está atrás das grades. Ela foi presa no mesmo dia da segunda cana de Roberto Jefferson, na noite de uma sexta-feira 13, em sua casa, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 48 horas depois de perder o foro privilegiado de deputada federal. Ao deixar a sua residência, a ex-deputada carregava uma Bíblia e repetia a seus familiares: “Amo vocês, fé em Deus”. Flordelis é acusada de ser a mandante da morte do marido, o pastor Anderson, assassinado na porta de casa em 18 de junho de 2019. No pedido de prisão, o MP afirma que Flordelis atrapalhou as investigações sobre o caso, orientou réus e testemunhas e eliminou provas. Ela responde por homicídio triplamente qualificado – motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima – tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. A Câmara dos Deputados aprovou quase por unanimidade a cassação do mandato da deputada.
Ao longo da história, a presidência da República nunca desceu tão baixo na escala civilizatória. Os novos apoiadores de Bolsonaro também são assassinos e estupradores já condenados: Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniella Peres, o ex-goleiro Bruno, que patrocinou o assassinato e esquartejamento da mãe do próprio filho, o jogador Robinho, condenado por estupro, Jairinho, médico acusado pela morte de uma criança por espancamento e Ronnie Lessa, miliciano que matou Marielle Franco e outros tantos. A iminência da cadeia está deixando o clã Bolsonaro apavorado. Nos inquéritos por atos golpistas estão sendo investigados dois filhos do capitão: Carlos e Eduardo Bolsonaro. Por corrupção o alvo é Flávio Bolsonaro. O próprio Bolsonaro tem 5 investigações abertas. Eduardo Bolsonaro, que já verbalizou a ruptura democrática e queria adiar a eleição, se insurgiu contra a prisão dos parceiros: “Prendem por fake news. Prendem por atos antidemocráticos. O que é um ato antidemocrático? Prendem por milícia virtual. Vai chegar uma hora em que essas ordens da mais alta Corte do Judiciário nacional não vão ser cumpridas, infelizmente”. Elas estão sendo cumpridas e, por isso, eles se questionam quem será o próximo: “Não tem mais corda para você esticar. Qual seria o próximo passo? Prender o presidente? Prender um dos filhos? A gente não tem medo de prisão”. Seria mais uma mentira?
– Weiller Diniz é jornalista
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