quarta-feira, 9 de novembro de 2022

ESCOLHAS ECONÔMICAS

Editorial Folha de S.Paulo

Economistas de correntes diversas de pensamento foram chamados para a equipe de transição de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que decerto não ajuda a reduzir a incerteza em torno da agenda a ser adotada a partir de 2023.

O grupo terá Persio Arida, um dos formuladores do Plano Real e alinhado a teses liberais; André Lara Resende, também da equipe do Real, mas nos últimos anos defensor de ideias controversas na área monetária; Nelson Barbosa, ministro durante o estatismo de Dilma Rousseff (PT); e Guilherme Mello, da Unicamp, atuante à esquerda.

É evidente que os currículos resumidos em poucas palavras deixam de fora nuances ou até eventuais pontos de concordância entre os quatro. Parece evidente, entretanto, que as escolhas pretenderam acenar tanto à militância partidária quanto à vasta parcela da opinião pública que teme a repetição de erros graves do passado.

Ao longo de oito anos no Palácio do Planalto, Lula nunca deixou de contemplar, em graus que variavam conforme a ocasião, as correntes liberal e estatista —para fazer uma divisão simplificadora.

A primeira teve maior protagonismo em seu primeiro mandato, quando foram respeitadas metas fiscais e de inflação, aprovou-se uma reforma previdenciária e, não menos importante, o caríssimo programa Fome Zero da campanha deu lugar ao focalizado e bem-sucedido Bolsa Família.

Mesmo nesse período, porém, a ala oponente dispunha de cargos e influência para patrocinar aumentos de gastos, reajustes de salários e ativismo nas estatais. Em episódio que ficou célebre, Dilma, então na Casa Civil, teve em 2005 o apoio presidencial para barrar um ambicioso plano de ajuste fiscal.

O intervencionismo econômico ganhou força no segundo mandato, ainda mais quando a crise econômica global tornou justificável a expansão das despesas públicas e do crédito favorecido por meio de bancos oficiais. Após a eleição de Dilma, abandonou-se o que restava de prudência e produziu-se o desastre conhecido.

Desta vez, Lula terá dificuldades consideravelmente maiores se quiser, mais uma vez, equilibrar-se entre gregos e troianos. As contas do Tesouro Nacional encontram-se depauperadas, e o governo depende do mercado credor até para pagamentos cotidianos. Não está no horizonte o cenário global favorável de duas décadas atrás.

Mesmo admitindo-se uma elevação inevitável de despesas permanentes a partir de 2023, há que indicar logo quem dará as cartas na economia e o que será feito das contas públicas. Não haverá como contentar Arida, Lara Resende, Barbosa e Mello ao mesmo tempo.

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