Jair Bolsonaro já tem protagonismo no pé de página da História como um presidente golpista que, derrotado nas urnas, fracassou na tentativa de restaurar uma ditadura militar no país. Mas ele consegue a proeza de ser bem menor que isso. Parece mais à vontade como um malandro agulha, o cara que se acha mais esperto que os outros e, por essas “espertezas”, acaba se estrepando. Seu tamanho real parece ser o do escândalo das fraudes em atestados de vacina contra Covid para que ele, familiares e auxiliares não corressem o risco de serem barrados pelas regras sanitárias de outros países.
Esse novo escândalo se encaixa tanto ao papel de golpista em fuga como ao tortuoso enredo das rachadinhas que envolve todo o seu clã, e obscuras interseções com as milícias no Rio de Janeiro. Mostra que a turma de militares no Palácio do Planalto comandada pelo tenente-coronel do Exército Mauro Cid era pau pra toda obra. Participou ativamente da frenética tentativa frustrada de resgatar as milionárias joias da arábias, contrabando apreendido em Guarulhos pela Receita Federal. E, também, na busca de certificados falsificados de vacina contra o Covid.
Foi aí que, depois de alguns tropeços, recorreu ao submundo na Baixada Fluminense. Num episódio que retrata toda essa promiscuidade, Mauro Cid, o faz tudo de Bolsonaro, pediu ao major da reserva do Exército Ailton Barros ajuda para conseguir um atestado falsificado de vacinação para sua mulher, Gabriela Santiago Cid. A resposta veio em 30 de novembro de 2021, quando Ailton Barros respondeu que conseguiu viabilizar a fraude no sistema do Ministério da Saúde com a ajuda do ex-vereador carioca Marcello Siciliano, um dos investigados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.
No melhor estilo de uma mão lava a outra, o major Ailton pediu ao braço direito de Bolsonaro uma ajuda com o Cônsul americano para que Siciliano conseguisse visto de entrada nos Estados Unidos, que estaria sendo dificultado justamente pela morte de Marielle.
Disse o major Ailton Barros em uma das mensagens por áudio no whatsapp enviadas para o tenente-coronel Mauro Cid: “De repente, nem precisa falar com o cônsul. Na neurose da cabeça dele [Siciliano], que ele já vem tentando resolver isso a (sic) bastante tempo, manda e-mail e ninguém responde, entendeu? Então, ele partiu para a direção do cônsul, que ele entende que é quem dá a palavra final. Mas a gente sabe que nem sempre é assim, né? Então quem resolva, quem resolva o problema do garoto, entendeu? Que tá nessa história de bucha. Se não tivesse de bucha, irmão, eu não pediria por ele, tá de bucha. Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a p*** toda. Entendeu? “.
Como o caso Marielle ainda está aberto, pode, enfim, ser uma pista para finalmente desvendar quem foram os mandantes. Difícil que ele, candidato em 2022 a deputado estadual se apresentando como 01 de Bolsonaro, revele informações pra esclarecer o caso. Mas vale a hastag #conta, major.
Jair Bolsonaro e seu clã sentiram o golpe da operação da Polícia Federal. A desculpa de Bolsonaro: “Não vacinei. Portanto, não houve fraude da minha parte”. O que é contestado pela Polícia Federal que identificou fraude em atestado de vacinação em computadores no gabinete pessoal do então presidente da República, na mesma correria às vésperas de sua “fuga” para os Estados Unidos, também registrada na tentativa de resgaste dos diamantes árabes. Em discurso no plenário do Senado, Flávio Bolsonaro foi na mesma linha, dizendo que todo mundo sabia que seu pai não tinha vacinado, portanto não haveria nenhuma razão para adulterar o cartão de vacinação:
— Ele não usaria para nada. Qual é a intenção de alguém autorizar a busca e apreensão na casa de um ex-presidente por causa de um motivo infantil desses? Seu irmão Eduardo Bolsonaro foi na mesma toada, atribuindo a ida da Polícia Federal à casa de Bolsonaro a uma perseguição da esquerda, porque “é público e notório que ele sempre falou que não se vacinou”. Até seria plausível se não atropelasse os fatos apurados pela Polícia Federal, inclusive nos computadores da Presidência da República.
No despacho do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF, “plausível, lógica e robusta” é a investigação da Polícia Federal que aponta a participação, de maneira velada ou não, de Bolsonaro na inserção de dados “falsos no sistema do SUS”, em busca para si e terceiros especialmente depois de sua derrota eleitoral.
plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de 2022″, disse Moraes.plausível, lógica e robusta a linha investigativa sobre a possibilidade de o ex-presidente da República, de maneira velada e mediante inserção de dados falsos nos sistemas do SUS, buscar para si e para terceiros eventuais vantagens advindas da efetiva imunização, especialmente considerado o fato de não ter conseguido a reeleição nas Eleições Gerais de 2022″, disse Moraes.
Mas o que a investigação da Polícia Federal apura não é se Bolsonaro vacinou ou não. É se ele e seus assessores militares diretos, em conluio com outros personagens, falsificaram certificados de vacinação para si e familiares, o que é crime. Se comprovado, tem que ser punido. Com o agravante de que sua campanha contra as vacinas enquanto presidente da República, segundo os especialistas, ampliou em dezenas de milhares o numero de mortos e sequelados por Covid no país e até hoje prejudica campanhas vacinais contra uma penca de doenças antes bem sucedidas.
Bolsonaro está sendo investigado no STF, no TSE, em outras instâncias em muitos inquéritos sobre acusações de crimes em variados graus. A dúvida é por qual vai começar a pagar.
A conferir.
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