Desemprego cai, mas vagas abertas não acompanham avanço da capacitação profissional
Aumento do nível de escolarização da população e crescimento do emprego com carteira assinada são duas ótimas notícias que vêm ocorrendo no Brasil e que poderiam apontar para um horizonte promissor, de elevação consistente da renda per capita e melhora da qualificação do trabalho. Infelizmente, os dois indicadores não estão convergindo, e o que tem sido constatado é a precarização do mercado de trabalho, com predominância absoluta de vagas para profissionais com, no máximo, nível médio, enquanto minguam as vagas para graduados e pós-graduados.
Além disso, o acompanhamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, atesta que o emprego informal, que destitui os trabalhadores dos direitos assegurados pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), cresce em proporção maior do que o formal. No trimestre encerrado em agosto, eram 37,2 milhões de formais ante 38,6 milhões de informais. Encontrar, nas ruas de metrópoles brasileiras, profissionais qualificados desempregados trabalhando, por exemplo, como motoristas de aplicativo não é mais fato raro. É o retrato do frágil e preocupante cenário de um mercado de trabalho camuflado por números gerais positivos.
Como se não bastasse a informalidade, a oferta de emprego formal é mais numerosa para vagas de menor qualificação, muitas vezes disputadas e ocupadas por profissionais mais capacitados do que o exigido, o que traduz à perfeição o conceito da precarização. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgado em reportagem do Estadão mostra que aumenta a proporção das vagas que exigem, no máximo, nível médio: 81% em 2021; 87%, em 2022; e 96% neste ano, quase a totalidade.
No mesmo período foram perdidos 511 postos de trabalho para profissionais com mestrado e 655 com doutorado. O levantamento foi feito com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. O ministro Luiz Marinho, ouvido na reportagem, disse que somente com a recuperação industrial haverá retomada consistente do emprego. Decerto caberia, além do diagnóstico simplista, uma atitude mais proativa do governo.
O avanço educacional, que se reflete no aumento de escolaridade da população, precisa desaguar na melhoria do mercado de trabalho, com mão de obra especializada e capacitada. O acesso ao ensino superior cresce. De forma lenta, mas constante, como também revelam dados da Pnad. Sem a correspondente abertura de vagas, ou pior, com redução de oferta, o destino para estes profissionais é engrossar a precarização ou participar do “êxodo de cérebros”.
Nenhuma das alternativas é o caminho desejado para o desenvolvimento econômico do País que, no trimestre encerrado em agosto, chegou à taxa de desemprego de 7,8%, a menor registrada pelo IBGE desde 2015. Desde o auge da pandemia, quanto o total de desempregados ultrapassou a marca de 14 milhões, a queda na desocupação é satisfatória em quantidade. Hoje são 8,4 milhões. Está na hora de investir na qualidade do emprego.
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