Principal explicação para recorde da população ocupada é o êxito da reforma trabalhista de 2017
O desemprego no Brasil ficou em 7,7% no terceiro trimestre, menor nível desde fevereiro de 2015, quando começou a subir com o naufrágio econômico do governo Dilma Rousseff. O Brasil tinha em setembro 8,3 milhões de desempregados, quase metade do registrado no pior momento da pandemia, quando a desocupação chegou perto de 15%. Em razão de avanços da reforma trabalhista de 2017, como maior flexibilidade de contratação e menos desavenças na Justiça do Trabalho, a retomada da economia permitiu ao país voltar ao patamar abaixo de 8% sem risco significativo para a inflação, como no passado.
Criar empregos é meta fundamental de toda sociedade. Mas um mercado de trabalho aquecido demais eleva os salários, a demanda por consumo e, em decorrência, os preços. De acordo com a ciência econômica, há uma taxa de desemprego natural, abaixo da qual a criação de empregos se torna necessariamente inflacionária. Embora a discussão sobre o valor preciso dessa taxa no Brasil seja algo esotérica, contaminada por inclinações ideológicas, diversos estudos confirmam que ela caiu com a reforma de 2017. Por isso o recorde de brasileiros trabalhando hoje gera menos preocupação com a inflação.
Na comparação com o trimestre anterior, havia mais 929 mil ocupados em setembro. Seis de cada dez, empregados com carteira assinada no setor privado. Os maiores empregadores foram os setores de informação, comunicação, financeiro, imobiliário e administrativo. Os demais se mantiveram estáveis. O rendimento médio, estimado em R$ 2.982, registrou alta de 1,7% sobre os três meses terminados em junho e de 4,2% sobre o mesmo período do ano passado. “Houve aumento no rendimento médio dos empregados com carteira no setor privado, empregados no setor público e trabalhadores por conta própria”, diz a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
A maior parte do ganho salarial nos últimos anos tem recaído sobre a parcela mais pobre da população, revelou estudo recente da Fundação Getulio Vargas. O salário médio dos 25% que ganham menos subiu 15,4% em relação a 2019. A renda dos 25% que ganham mais, em contrapartida, sofreu queda de 0,6%. Claro que o impacto de mais emprego e mais ganho salarial na inflação não será nulo. Mas o mercado de trabalho tem exercido menos pressão nos preços do que se imaginava.
De acordo com o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), a explicação para isso está não apenas no número de empregos gerados em consequência da reforma (o numerador na taxa de desocupação), mas sobretudo no total da população empregada ou em busca de trabalho (o denominador), ainda abaixo do nível pré-pandemia. Se todos voltassem a procurar emprego e não conseguissem, a desocupação estaria, diz ele, em torno de 10%. Como a fração da população sem rendimento permanece maior do que sugere a taxa de desemprego, a pressão inflacionária acaba sendo menor.
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