quarta-feira, 29 de novembro de 2023

JURO NO BRASIL PODE CAIR 7,8% EM 2025, PROJETA OCDE

Assis Moreira, Valor Econômico

Entidade vê espaço para reduções contínuas nas taxas de juros ao longo de 2024 e 2025

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) projeta agora que o crescimento da economia brasileira ficará em 3,0% em 2023 (comparado a 3,2% em setembro), desacelerando para 1,8% em 2024 (ante 1,7% estimado antes) e 2,0% em 2025, em novo relatório publicado hoje em Paris.

‘Somos bastante positivos sobre o Brasil’’, afirma Jens Arnold, chefe da divisão na OCDE que acompanha a situação brasileira. Ao explicar os ajustes nas projeções, ele nota que a economia brasileira teve um desempenho muito forte, sobretudo no começo do ano. Mas indicadores de frequência mensal sugerem um desempenho menos forte no terceiro trimestre. Isso levou a uma ligeira revisão das projeções. E implicou também levar parte do crescimento de 2023 para o ano seguinte, ou seja, é mais uma revisão do timing do que outra coisa.

A demanda doméstica continua sendo o principal impulsionador da atividade econômica no Brasil. Apesar do aperto nas condições financeiras, os gastos das famílias continuarão fortes com o crescimento dinâmico do emprego, a queda da inflação e o aumento das transferências sociais.

Nota que as primeiras estimativas projetam um novo recorde na produção agrícola para a próxima segunda safra. Embora a produção industrial tenha melhorado em agosto, continua 1,8% abaixo do nível pré-pandêmico de fevereiro de 2020. O setor de serviços apresentou contração consecutiva de 0,3% em setembro de 2023 e de 0,9% em agosto em comparação com julho. O mercado de trabalho vem se fortalecendo, com a taxa de desemprego caindo para 7,7% em setembro, a menor registrada desde junho de 2015. A criação de empregos está sendo predominantemente impulsionada pelo setor de serviços, incluindo serviços domésticos.

A expectativa é de que o investimento privado se recuperará ligeiramente ao longo de 2024 com a flexibilização da política monetária. Embora os preços das commodities estejam em queda, os produtos agrícolas impulsionarão uma expansão contínua das exportações.

A inflação pode diminuir para 4,5% em 2023, 3,2% em 2024 e 3,0% em 2025, alinhando-se com a banda da meta a partir de 2024. Observa que a queda na inflação é resultado de uma resposta antecipada da política monetária e da normalização de interrupções na cadeia de suprimentos.

Constata que a flexibilização da política monetária começou em agosto de 2023, mas as taxas de juros reais permanecem altas, e isso deixa espaço para reduções contínuas nas taxas de juros ao longo de 2024 e 2025. Assim, prevê novos cortes na taxa de juros, para 9,2% até o final de 2024 e 7,8% até a segunda metade de 2025.

A política fiscal continua expansionista, mas diz esperar uma consolidação gradual em 2024 para atingir a meta de superávit primário de 1% do PIB exigida pelo novo arcabouço fiscal.

Consolidação fiscal pode ser feita do lado das receitas ou do lado dos gastos. No caso do Brasil, a entidade diz esperar uma combinação de ambos. O governo Lula anunciou aumento das receitas equivalente a 1,5% do PIB em 2024, enquanto as despesas aumentariam 1,0% do PIB.

Considera que a adoção da reforma tributária e a melhoria da concorrência impulsionarão o crescimento. Além dos impostos sobre o consumo, vê espaço para o país reformar os impostos sobre a renda e melhorar a progressividade do sistema tributário.

Nota que a atual dedução do imposto de renda de pessoas físicas das despesas com saúde e educação privadas tem efeitos distributivos regressivos, já que s 90% dos brasileiros têm renda abaixo do limite em que pagariam imposto de renda e apenas 25% dos brasileiros tem planos de saúde privados, enquanto a maioria da população depende do sistema público de saúde.

Observa também que os recentes aumentos nas transferências condicionais de renda têm sido bem direcionados, reduzindo a pobreza e a desigualdade, mas que são necessárias mais melhorias na eficácia e no direcionamento dos benefícios sociais.

A OCDE destaca mais uma vez o desmatamento como a principal fonte de emissões brutas de gases de efeito estufa. E insiste que uma aplicação mais rigorosa das leis de proteção ambiental, incluindo o Código Florestal, será fundamental para combater o desmatamento. Nota que o setor agrícola é a segunda maior fonte direta de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. E que um melhor direcionamento do crédito agrícola para práticas de baixo carbono pode ser eficaz para combater o desmatamento e reduzir as emissões.

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