sábado, 4 de novembro de 2023

RIVALIDADE ENTRE TORCIDAS DESAFIA AUTORIDADES

Editorial O Globo

Tumultos como o que antecede final da Libertadores exigem atenção para preservar a segurança nos estádios

São preocupantes os sinais emitidos pelas torcidas organizadas do Boca Juniors e do Fluminense, times que disputarão na tarde deste sábado, no Maracanã, a final da Copa Libertadores da América. Desde o início da semana, torcedores das duas equipes se engalfinham em Copacabana, cenário previsível diante da tensão que cerca partidas decisivas, especialmente quando envolvem brasileiros e argentinos. A polícia precisa levar em conta o potencial explosivo do jogo, e não só dentro do estádio, pois sabe-se que muitos visitantes não têm ingresso e ficarão circulando pelas ruas do Rio.

Na segunda-feira, quando ainda era pequeno o número de torcedores argentinos na cidade, houve tumulto em Copacabana entre apoiadores do Boca e do Fluminense. Ontem, quando o contingente já era maior, foi registrada mais confusão. A PM precisou usar bombas de efeito moral para conter os brigões. Pelo menos seis foram detidos. A temperatura voltou a subir com as ameaças feitas por chefes de torcidas organizadas. “Que esperem a gente chegar. E que os do Fluminense venham nos procurar”, desafiou um líder em áudio enviado à imprensa argentina. O clima de conflagração levou a Conmebol a fazer uma reunião de emergência para discutir a segurança do jogo.

Autoridades certamente não desconhecem os riscos, mas isso não significa que tudo esteja sob controle. Medidas administrativas foram tomadas com o objetivo de reduzir danos. A Prefeitura do Rio proibiu a venda de bebidas alcoólicas no entorno do Maracanã, iniciativa considerada excessiva pelo Sindicato de Bares e Restaurantes, sob a alegação de que não foi adotada noutros jogos da Libertadores. Espera-se que o veto alcance também os ambulantes, que costumam oferecê-las livremente, sem concorrência. A Prefeitura também reservou áreas específicas para os torcedores argentinos, como já fizera na Copa do Mundo de 2014, quando o Rio recebeu cerca de 100 mil visitantes do país vizinho. O Sambódromo e o Terreirão do Samba, na região central do Rio, serão enclaves dos torcedores do Boca.

A Polícia Militar diz estar preparada para a chegada deles — estima-se que serão entre 50 mil e 100 mil argentinos — e para o jogo no Maracanã. É verdade que a PM tem experiência em esquemas de policiamento de grandes eventos, mas nem sempre eles se revelam bem-sucedidos. Em março, antes de um jogo entre Flamengo e Vasco, cenas de selvageria tomaram conta da região do Maracanã. No mês passado, brigas entre vascaínos e rubro-negros deixaram pelo menos um morto e quatro feridos, uma lástima.

O Rio é uma cidade acostumada a grandes eventos. Apesar dos problemas com a violência, tem plenas condições de sediar uma final de Libertadores com mais de 60 mil torcedores no Maracanã e outras dezenas de milhares nas ruas. Mas é preciso que as autoridades tenham a noção exata dos riscos da guerra entre torcidas organizadas e tomem todas as providências necessárias para que a partida transcorra normalmente. Não só dentro da arena esportiva, mas também fora dela. É fundamental que o futebol seja jogado num ambiente pacífico, civilizado. Disso também depende o sucesso das competições. Afinal, quem irá com a família ao estádio se o lazer pode se transformar em atividade de risco?

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