Centrão aprova recuo sobre meta fiscal e quer agora diretorias do Banco do Brasil e da Petrobras
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu o sincericídio de dizer que o governo pode descumprir a meta de déficit zero para 2024, o apetite dos partidos do Centrão só aumentou. Em público, o discurso oficial é o de que o Executivo precisa fazer o ajuste das contas públicas. Nos bastidores, porém, a conversa é outra.
A cúpula do Centrão não se contentou com o comando dos ministérios do Esporte e de Portos e Aeroportos nem com a presidência da Caixa Econômica Federal. Quer as 12 vice-presidências da Caixa, a Funasa ressuscitada e também diretorias do Banco do Brasil e da Petrobras, estatal que foi pivô do escândalo do petrolão.
O grupo atua, ainda, para embutir na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) um dispositivo que obriga o governo a pagar emendas de liderança e de comissões, faça chuva ou faça sol.
Se prosperasse a meta de déficit zero, coisa em que ninguém mais acredita, Lula fatalmente teria de cortar algo em torno de R$ 53 bilhões do Orçamento no início de 2024, ano de eleições municipais. Nesse cenário, as emendas que destinam recursos para redutos eleitorais de parlamentares virariam pó.
Na prática, pode-se dizer que a ala política do governo, capitaneada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, venceu a primeira batalha contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Costa e até mesmo uma parte da equipe econômica argumentavam que, se Haddad não recuasse, programas de investimentos, como o PAC, seriam uma ficção e a popularidade do presidente despencaria.
No café da manhã de sexta-feira com jornalistas, do qual participei, Lula deu a senha para o descumprimento da meta fiscal. Admitiu naquele encontro, no Palácio do Planalto, que 2024 será um ano muito difícil. Não foi só: disse querer mudar a percepção da sociedade de que o governo “só pensa em pobre”. Há tempos o PT tenta, sem sucesso, conquistar a classe média.
Lula critica a “ganância” do mercado, mas não a do Centrão. Ainda ontem, em reunião com ministros, dirigentes e líderes de partidos, ele defendeu, mais uma vez, a aliança com esse grupo, que tem à frente o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). E indicou, de novo, que o País não precisa zerar o déficit.
“O fato de revisar a meta não significa que se vá gastar mais. Afinal, votamos o arcabouço fiscal para ter estabilidade econômica”, concordou, mais tarde, o deputado Danilo Forte (UniãoCE), relator da LDO. “Mas o que dá estabilidade política é a execução do Orçamento. Não somos ingênuos de achar que não haverá problema em ano eleitoral.” Ingenuidade, aliás, é uma palavra que não consta do dicionário político do Centrão. Por isso mesmo, a guerra continua.
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