A lição de Danilo Santos de Miranda é a valorização da educação como pilar da democracia
Grandes transformações sociais não raro começam miúdas. Inicialmente, partem de ideias e ações modestas inspiradas apenas pela paixão típica dos visionários que dedicam boa parte de suas vidas a inflamar os outros com seu entusiasmo pelas causas justas. Danilo Santos de Miranda era um desses brasileiros notáveis. Sua morte, aos 80 anos, deixa um vazio que, se não pode ser preenchido, poderá ser amenizado por quem se revelar à altura de seguir seu legado como um dos maiores defensores da democratização do acesso à educação e à cultura da história recente do País.
Danilo Miranda esteve à frente da regional do Sesc em São Paulo de 1984 até o domingo passado, quando morreu por causa não divulgada. Por mais longa e exitosa que tenha sido sua gestão do Sesc-SP, louvá-lo como um administrador de sucesso que, ao longo de todo esse tempo, profissionalizou a gestão da cultura no País e fez da regional paulista do Sesc o modelo a ser seguido por todas as outras seria reduzir, de forma imperdoável, sua enorme importância para o Brasil.
Com sólida formação humanista, desde o tempo que passou no seminário dos jesuítas de Friburgo (RJ) ainda adolescente, Danilo fez do Sesc-SP um dínamo da cultura nacional, mas não se restringiu a isso, como se fosse pouco. O filósofo teve a sensibilidade e a inteligência de perceber, desde muito cedo, que a construção de um país democrático, justo e desenvolvido está umbilicalmente ligada ao desenvolvimento individual de seus cidadãos por meio da educação e da cultura.
Muito mais do que somente centros culturais, Danilo expandiu as unidades do Sesc-SP como verdadeiros centros cívicos, espaços de cidadania e convivência nos quais os paulistas puderam encontrar de tudo, com a mais alta qualidade, para adquirir conhecimento, fruir a arte em suas múltiplas manifestações e se capacitar cada vez mais para a vida em sociedade.
“O Brasil tem condições de melhorar as coisas para o futuro”, disse Danilo ao Estadão em entrevista concedida em maio deste ano. “Tudo isso envolve política, sim; envolve economia, sim; mas, sobretudo, envolve a cultura e o convencimento a respeito de quem nós somos”, disse o filósofo. A chave para a materialização desse projeto de país melhor no futuro? “Colaborar na nossa atividade, no nosso dia a dia”, concluiu Danilo.
Danilo Miranda sempre acreditou que a cultura e a educação eram as chaves para transformar vidas e construir um país mais justo e próspero a partir do microcosmo individual. Ao assumir a direção regional do Sesc-SP, fez dessa crença a espinha dorsal de uma administração que ofereceu relevantes oportunidades culturais e educacionais para todos os cidadãos, independentemente de sua origem social e econômica.
Seu compromisso com a democratização do acesso a bens culturais, não resta dúvida, é seu grande legado. Danilo jamais compreendeu a cultura como um artigo de luxo reservado a poucos, mas sim como um direito fundamental de todos os brasileiros e um poderoso instrumento de construção da identidade nacional, sem a qual nenhum projeto de país decente pode prosperar.
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