Questões locais e não nacionais tendem a dar o tom da disputa em pleitos municipais
As eleições municipais deste ano se darão sob o signo da polarização? É pouco provável. De um modo geral, são os problemas locais que pautam as disputas para as prefeituras e Câmaras de Vereadores. É claro que em algumas praças, normalmente cidades grandes, em que pelo menos um dos candidatos se identifique fortemente com um dos grandes blocos políticos, poderemos ver ecos do lulismo contra o bolsonarismo, mas na grande maioria dos 5.570 municípios é o buraco na rua e não a posição do Brasil em relação à guerra na Ucrânia que dará o tom. Essa pelo menos tem sido a tendência nos últimos ciclos eleitorais.
Basta lembrar que, em 2020, quando a polarização já estava instalada, Jair Bolsonaro se mostrou um péssimo cabo eleitoral. Emprestou seu apoio a 13 candidatos a prefeito e a 45 a vereador. Desses todos, apenas 13 se elegeram, sendo só dois prefeitos, os de Parnaíba (PI) e Ipatinga (MG), que não são exatamente megalópoles. Cabe a ressalva de que, embora Bolsonaro ocupasse a Presidência, estava sem um partido político à época do pleito.
De modo análogo, sair-se bem em eleições municipais não é garantia e nem mesmo indício de sucesso futuro. Em 2016, o PSDB fez barba e cabelo na disputa, conquistando 807 prefeituras, que reuniam mais de 35 milhões de munícipes, incluindo a de São Paulo, em que João Doria venceu o então prefeito Fernando Haddad sem necessidade de passar por um segundo turno. Dois anos depois, o ainda tucano Geraldo Alckmin obteve apenas 5% dos votos no pleito presidencial.
Não estou, com essas observações, sugerindo que a polarização não é mais um problema. Muito pelo contrário, ela continua firme entre nós, particularmente na modalidade afetiva, e não há sinais de que esteja indo embora. O ponto é que ela tende a manifestar-se mais em jantares de família e eleições nacionais do que em pleitos municipais, onde os buracos na rua reinam soberanos.
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