Campanhas de Guilherme Boulos e Ricardo Nunes disputam mesmo rótulo em SP; na esquerda e na direita, propaganda tenta dar verniz de nobreza à negociação de palanques
Frente ampla virou a expressão da moda na eleição de São Paulo. A ex-prefeita Marta Suplicy reivindicou o termo ao anunciar o apoio a Guilherme Boulos. Na segunda-feira, o governador Tarcísio de Freitas discordou. Disse que ampla mesmo é a frente do prefeito Ricardo Nunes.
A propaganda mastiga as palavras até esvaziar seu sentido. Na disputa paulistana, a ordem é dar verniz de nobreza à velha negociação de palanques.
Líder das pesquisas, Boulos mostrou força ao tirar Marta da gestão do rival. A ex-prefeita abandonou um cargo no governo para se juntar ao candidato da oposição. Daí a falar em frente ampla, é outra história. A chapa terá titular do PSOL e vice do PT. As siglas pertencem ao mesmo campo político e já são aliadas no plano federal.
Marta volta ao partido que deixou em 2015, alegando “princípios éticos inegociáveis”. Agora deveria explicar se mudou de ideia ou negociou os princípios. De qualquer forma, não há razão para espanto. Ela já passou 33 anos no PT, uma eternidade para padrões brasileiros. Filiou-se em 1981, quando Boulos ainda nem havia nascido.
Ex-vice de Bruno Covas, Nunes herdou três anos e meio de mandato. Antes de se apresentar ao eleitor, cacifou-se como o candidato do sistema. É o preferido dos vereadores, dos empreiteiros, dos barões do transporte público.
No mês passado, presenteou as empresas de ônibus com um programa de tarifa zero aos domingos. A benesse não muda a vida dos trabalhadores, mas custará R$ 238 milhões por ano aos cofres municipais.
Filiado ao MDB, o prefeito já fechou com todos os partidos do Centrão: do Republicanos de Tarcísio ao PL de Bolsonaro. O ex-presidente deve apoiá-lo por falta de alternativa, não por convicção. Seu pupilo Ricardo Salles fracassou na tentativa de se viabilizar na própria legenda.
A ideia de frente ampla pressupõe a união de adversários em nome de uma causa maior, como a defesa da democracia. Aconteceu em 1966, quando João Goulart, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda venceram divergências históricas para combater a ditadura militar.
A aliança foi proibida antes de completar dois anos. Durou pouco, mas rendeu frutos. Inspirou a campanha das Diretas, que ajudou a destronar os generais, e a união de Lula e Alckmin, que tirou o capitão do poder.
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