Passarela do samba completa 40 anos colecionando apoteoses
Quarenta anos de Sambódromo. A palavra —que o dicionário Houaiss registra como criação de Darcy Ribeiro— é uma das mais feias da língua portuguesa. Mas acabamos nos acostumando e até gostando dela e do seu som quadrado, como batuque no cimento. Também não parece mais tão monstruosa, hoje, a estrutura de concreto erguida em apenas quatro meses.
Ao longo do tempo o Sambódromo se humanizou, apesar dos carros alegóricos que podem chegar a 22 metros e exibem mais tecnologia que criatividade. Cada amante dos desfiles passou a colecionar momentos inesquecíveis, os quais podem ter se desenrolado fora da passarela —o ex-presidente Itamar Franco, de topete carnavalesco, ao lado da modelo Lilian Ramos, de camiseta e sem calcinha, num camarote.
Como é impossível citar todas as histórias e cenas marcantes, segue uma lista íntima. No inaugural 1984, a Mangueira chegou à Praça da Apoteose —os sambistas não sabiam para o que ela servia, e ainda não sabem— e resolveu voltar, para delírio das arquibancadas. Nasceu ali a sensação de que aquela loucura do Brizola poderia dar certo.
As esculturais rainhas de bateria, nenhuma capaz de superar a graça infinita de Quitéria Chagas. Na Unidos da Tijuca, os membros da comissão de frente que, num passe de ilusionismo, perdiam a cabeça. As genitálias desnudas, depois decoradas e enfim censuradas. Mesmo destino do Cristo Redentor, proibido pela Justiça e que mesmo assim desfilou na Beija-Flor de Joãosinho Trinta, coberto por enorme saco plástico de lixo.
Com "Peguei um Ita no Norte", Quinho do Salgueiro comandando um coro de 60 mil vozes. Na Imperatriz, o casal de porta-bandeira e mestre-sala, Maria Helena e Chiquinho, mãe e filho. As alas das velhas guardas, das baianas e das crianças. Não por último, o naipe de agogôs na bateria do Império. E olha que houve no Rio um prefeito que, se pudesse, demoliria o Sambódromo.
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