segunda-feira, 18 de março de 2024

INCLUSÃO NÃO É FAVOR

Ana Cristina Rosa, Folha de S. Paulo

Ações de promoção da equidade racial devem ser respeitadas e fomentadas num país racista como o Brasil

Inclusão não é favor. Inclusão é direito! Essa é a principal razão pela qual ações voltadas à promoção da equidade racial devem ser respeitadas, defendidas e fomentadas num país racista como o Brasil.

Nos últimos anos, temos presenciado o aumento de iniciativas para ampliar a inserção social de pretos, pardos e indígenas. O cenário, fruto da ação de movimentos sociais, ainda é tímido se comparado ao nível das desigualdades raciais vigentes. No entanto, tem se mostrado suficiente para provocar irresignação entre quem não convive bem com a ideia de compartilhar direitos que, na prática, sempre constituíram privilégios de uns poucos.

Nesse sentido, ações afirmativas que têm surtido resultados efetivos —caso das cotas raciais— têm sido atacadas, tratadas como injustiça ou até favor.

Sob a perspectiva histórica e o contexto socioeconômico contemporâneo, trata-se de um contrassenso numa nação que ao longo de séculos optou por dar as costas aos descendentes de escravizados.

Contudo, em nome de um imaginário "prejuízo aos pobres", há quem ignore tanto o passado quanto o presente para vislumbrar um cenário alheio à realidade nacional. Não só porque a maioria da população que está na linha da pobreza —ou abaixo dela— é negra. Mas sobretudo por desconsiderar que uma sociedade racista impõe um ônus a pretos e pardos.

Ações afirmativas precisam ser analisadas pelo ganho social que representam. Por incrível que pareça, os percalços suportados por um negro pobre e um branco pobre não são os mesmos.

Com as cotas raciais, pela primeira vez uma política pública voltada à população afrodescendente vem apresentando resultados efetivos e mensuráveis. A presença notável de pretos e pardos em bancos acadêmicos serve de exemplo e prova que essas cotas têm potencial para frear o processo de exclusão institucionalizado contra negros ao longo da nossa história. Ainda assim, há quem trate a solução como problema.

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