Hamas sai quase destruído de embate com Israel, mas conseguiu incendiar a região
A guerra em Gaza continua e vai deixando um número absurdo de civis palestinos mortos. No plano internacional, quaisquer simpatias que Israel tenha atraído após os ataques terroristas de 7 de outubro já se esgotaram ou estão em vias de esvair-se, inclusive por parte de aliados próximos como os EUA. Não é para menos. O hemoclismo em Gaza se faz acompanhar de medidas que parecem criminosamente cruéis.
Não vejo como justificar, por exemplo, que Israel impeça a entrada das quantidades necessárias de comida e de medicamentos para os palestinos.
No plano interno, a contestação ao governo de Binyamin Netanyahu também é crescente. A chance realista de libertar os reféns é por meio de um cessar-fogo e uma troca de prisioneiros, mas há motivos para suspeitar que Netanyahu relute em fazê-lo, porque sabe que, assim que as operações militares de maior escala cessarem, ele terá de responder politicamente por seus erros. Não só os serviços de inteligência falharam em detectar a ameaça do 7 de outubro como sua estratégia de manter com o Hamas um antagonismo administrável (e com isso dispensar-se de negociações de paz) revelou-se um fracasso.
O governo talvez não sobreviva a um cessar-fogo e por isso Netanyahu pode estar esticando a guerra.
Gostaria de poder dizer que, sem essa administração de extrema direita em Israel, a solução de dois Estados fica mais próxima. No médio prazo isso talvez até ocorra. EUA, Europa ocidental e alguns governos árabes vão pressionar bastante para tal desfecho. Mas, no curto prazo, caiu o apoio dos israelenses a uma saída negociada. Israelenses viram o 7 de outubro como uma ameaça existencial. E a inversa também é verdadeira. Em meio à carnificina, cresceu o apoio dos palestinos ao Hamas.
Há algo de irônico aí. O grupo terrorista sai semidestruído de seu confronto militar com os israelenses, mas foi vitorioso em seu objetivo de radicalizar a região.
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