No Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo, Brasil ainda faz de conta que o problema não existe
O álcool é responsável por 4% das mortes no mundo. Nos últimos anos, a porcentagem de brasileiros que bebem pelo menos uma vez por semana cresceu de 23,9% para 26,4%. A ingestão de álcool no Brasil é 30% dramaticamente superior à média mundial. Ao mesmo tempo, o país não se empenha em campanhas para a redução da bebida e restrição da propaganda. E o "aprecie com moderação", engrolado às pressas pelo locutor ao fim dos comerciais de cerveja, é um escárnio —porque, se fosse possível a todo mundo "beber com moderação", não existiria o alcoolismo.
A OMS afirma que não há níveis seguros de consumo de álcool. Todos os consumidores estão sujeitos a dependência química, vários tipos de câncer, danos cerebrais e imunológicos e doenças hepáticas, cardiovasculares e gastrointestinais. Além dos distúrbios sociais, como a violência doméstica, no trânsito e nos bares, e o que isso provoca nas relações conjugais e familiares. E, se fracassa na prevenção, o Brasil é um desastre em termos de tratamento —o SUS, sozinho, não tem como dar conta do problema.
Com outras palavras e mais detalhes, essas informações estão no artigo de Ronaldo Laranjeira, psiquiatra paulistano especialista em álcool e drogas, "A pandemia negligenciada do álcool", na Folha de 18/2, Dia Nacional de Combate ao Alcoolismo. Exceto por seu texto, não vi outras demonstrações de combate naquele dia. O Brasil faz de conta que o problema não existe.
Por acaso, tenho aqui na mesa um número do extinto Pasquim, de 29/10/1969, trazendo uma entrevista com Garrincha. Alguém pergunta ao craque: "Você bebe, Garrincha?". Ele responde: "Todo mundo bebe, né? O negócio é saber beber. Eu gosto de tomar um negocinho. Mas é assim, limitado."
Era mentira. Em 1969, Garrincha já perdera organicamente o controle. Sua triste história, até à morte, em 1983, aos 49 anos, é o epitáfio de muitos brasileiros.
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