sexta-feira, 14 de junho de 2024

RELAÇÃO ABUSIVA

Bernardo Mello Franco, O Globo

Demora de Lula para afastar Juscelino expõe relação abusiva com União Brasil

Caso ilustra dois problemas do governo: paralisia decisória e dependência de aliados infiéis

Ao iniciar o novo giro pela Europa, Lula indicou que não pretende demitir o ministro das Comunicações, Juscelino Filho. “Ele tem o direito de provar que é inocente”, justificou.

O argumento do presidente valeria na esfera criminal, onde a regra é a presunção de inocência. No serviço público, soa como desculpa para proteger um auxiliar que já deveria ter sido afastado.

A Polícia Federal indiciou o ministro pela suposta prática de seis crimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa, falsidade ideológica, violação de sigilo e fraude em licitação.

Ainda que não houvesse trambique, a obra já seria indefensável. Juscelino torrou R$ 7,5 milhões do orçamento secreto para asfaltar a estrada que passa em frente à sua fazenda. Um caso típico de apropriação do dinheiro público para fins particulares.

As suspeitas remetem a 2022, quando Jair Bolsonaro estava no poder e o maranhense dava seus pulos como deputado do baixo clero. Isso não livra o atual presidente do desgaste por manter um auxiliar tão encrencado.

O caso ilustra dois problemas do terceiro mandato de Lula: a demora para tomar decisões e a dependência de aliados infiéis.

Juscelino virou ministro num arranjo fisiológico que previa a troca de cargos por apoio político do União Brasil. O partido controla três pastas, mas mantém uma relação abusiva com o governo. Só segue sua orientação em 54% das votações na Câmara. É o mesmo percentual do PSDB, que faz oposição declarada.

Apesar das traições, Lula pisa em ovos para não contrariar a legenda. Teme desagradar o senador Davi Alcolumbre, que patrocinou a nomeação de Juscelino e deve voltar ao comando do Congresso no ano que vem.

A paralisia presidencial não se limita a este episódio. Lula tem hesitado para tomar decisões e fazer mudanças, mesmo diante de apelos por uma “chacoalhada” na equipe. No caso do ministro das Comunicações, o petista parece ter acreditado que o escândalo encolheria com o tempo. Aconteceu o contrário.

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