Tentativa de assassinato deu a republicano chance de estrear no papel de vítima
Ele conquistou a fama com pancadas, caretas e cambalhotas. Nos anos 80, Terry Bollea se projetou com um bigode gaulês e o nome de guerra de Hulk Hogan. Virou estrela do telecatch, misto de circo com luta livre que movimenta milhões de dólares nos Estados Unidos.
Na quinta-feira, o fortão trocou o ringue pelo palanque. Foi escalado para discursar no encerramento da convenção do Partido Republicano, em Milwaukee. “Deram um tiro no meu herói”, disse Hogan, hoje um marombado septuagenário. Repetindo o número que o consagrou, ele fez cara de mau e rasgou a camiseta que lhe encobria os músculos. Por baixo do pano, revelou-se outra camisa — esta com a logomarca da campanha de Donald Trump.
O show aqueceu o público para um momento-chave da eleição de 2024: o primeiro discurso do ex-presidente após o atentado que sofreu na Pensilvânia. “Era um dia quente e lindo em Butler”, iniciou Trump. Enquanto ele relembrava o comício interrompido por disparos, o telão exibia closes de sua reação ao ataque. A orelha ferida, o sangue no rosto, o punho erguido em sinal de vitória sobre o atirador.
“Eu não deveria estar aqui hoje”, prosseguiu o ex-presidente, que creditou sua sobrevivência a uma intervenção divina. “Me senti seguro porque Deus estava a meu lado”, concluiu, para delírio dos apoiadores.
A tentativa de assassinato deu a Trump a chance de experimentar o papel de vítima. A salvação por alguns milímetros reforçou, aos olhos dos seguidores, a ideia de que ele teria sido ungido para liderá-los.
Forjado no ramo do entretenimento, o ex-presidente conseguiu transformar em espetáculo o atentado que quase o matou. No ápice da convenção, beijou o capacete do bombeiro que morreu no ataque. O ato ganhou ar de culto messiânico, com transmissão ao vivo na TV e nas redes sociais. Centenas de republicanos penduraram curativos na orelha, imitando o novo visual do líder. Enquanto ele falava, eleitoras se debulhavam em lágrimas na plateia.
Aconselhado por marqueteiros, Trump recauchutou o pronunciamento para enxertar uma mensagem de conciliação. “Estou concorrendo para ser presidente de todos os EUA, não de metade”, recitou.
Depois da frase de estadista, ele retomou o tom bélico de sempre. Atacou jornalistas, demonizou adversários, acusou imigrantes de espalharem “miséria, crime, pobreza, doença e destruição” nos EUA. “Vou lançar a maior operação de deportação da História do nosso país”, disse.
A CNN contabilizou mais de 20 mentiras e distorções em 90 minutos de falatório. Além de falsear fatos e dados, o candidato eletrizou a plateia com novos arroubos de onipotência. “Sou capaz de parar guerras com um telefonema”, bravateou.
“Conheço muitos caras durões, mas Trump é o mais durão de todos”, garantiu Hulk Hogan, o animador da convenção. Sua fala foi curta, mas ajuda a entender a mágica que mantém o bilionário no topo das pesquisas. “Quando ele vencer, todos nós seremos campeões”, prometeu o lutador.
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