terça-feira, 27 de agosto de 2024

25 ANOS SEM DOM HELDER CAMARA

Beatriz Castro, TV Globo, g1

25 anos sem Dom Helder Camara: relembre a trajetória do líder religioso, marcada pela caridade e luta por direitos humanos

Arcebispo emérito de Olinda e Recife é tema de uma série de reportagens especiais da TV Globo.

Religioso, poeta e humanista. Os títulos, apesar de justos, são insuficientes para traduzir quem foi Dom Helder Camara. O “Dom da Paz”, como é conhecido, morreu no dia 27 de agosto de 1999, há 25 anos, mas seu legado segue vivo até hoje nas obras sociais e projetos fundados por ele (veja vídeo acima).

Um dos líderes religiosos, mais relevantes da história do país, Dom Helder teve um trabalho marcante na luta por direitos humanos, sendo um exemplo de caridade e humildade. Também fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foi bispo auxiliar no Rio de Janeiro e comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife por 21 anos.

Para celebrar a história de Dom Helder Camara, a TV Globo preparou uma série especial de reportagens sobre a vida e trajetória do religioso. Aqui no g1, você vai conferir quem foi o arcebispo, o legado social e religioso dele e o processo de beatificação em andamento que corre no Vaticano.

Quem foi Dom Helder

Helder Pessoa Camara nasceu em Fortaleza, no dia 7 de fevereiro de 1909, numa família simples e numerosa. Era o 11º dos 13 filhos do jornalista e bibliotecário João e da professora da educação infantil Adelaide.

A vocação religiosa de Dom Helder se revelou desde muito cedo, graças à mãe. Helder cresceu frequentando missas aos domingos e dias santos. Teve aulas de catecismo e gostava de brincar de celebrar missas como um padre. Ainda na infância, teve a certeza do que queria fazer no resto da vida e, aos 14 anos, entrou no seminário.

“Desde pequeno, eu dizia: ‘Quero ser padre, quero ser padre’. Talvez eu nem soubesse direito o que era ser padre. Um dia, meu pai chegou e disse: ‘Meu filho, sempre [...] escuto você dizer que quer ser padre. Você sabe o que é ser padre?’. [...] Ele apresentou o retrato de um padre que eu achei uma coisa lindíssima, formidável. Quando ele terminou, eu disse: ‘Meu pai, é um padre assim que eu quero ser’. Pois bem, ele disse: ‘Deus te abençoe’”, contou Dom Helder em entrevista ao Bom Dia Pernambuco de 15 de agosto de 1991.

O religioso precisou de uma autorização especial do Vaticano para se ordenar padre aos 22 anos, já que não tinha a idade mínima exigida de 24 anos. Segundo o padre e historiador Tiago Oliveira Gomes, o início da trajetória do cearense como sacerdote foi influenciada pela formação conservadora no seminário.

“Ele se envolve muito nestes dois campos de atuação, educação e mundo operário, defendendo a visão católica daquela época. Ele se aproxima do integralismo e vai desagradando algumas pessoas”, declarou o estudioso.

Fundado em 1932 pelo jornalista Plínio Salgado, o integralismo foi um movimento nacionalista de extrema-direita que pregava a defesa da tradição da família e dos valores militares. Segundo o escritor, teólogo e padre Marcelo Barros, apesar do envolvimento inicial, Dom Hélder se afastou do movimento e, por vezes, precisou justificar sua mudança de pensamento.

“Ele disse: meu filho, quem tem inteligência muda, eu estou aberto a mudanças permanentemente. Eu soube mudar. O grande problema na vida é quando a gente não sabe mudar”, contou o padre Marcelo Barros em entrevista à TV Globo.

Acervo preservado

Líder da Igreja Católica em Pernambuco por mais de duas décadas (1964–1985), Dom Helder Camara foi um poeta com vasta produção, tendo escrito mais de 7 mil poesias (veja vídeo acima).

"Tinha a poesia nas suas veias, no seu sangue, na sua pele. Dom Helder conversava conosco de modo poético. Vivia como poesia, se movia, ria, andava poeticamente", afirmou o padre e teólogo Marcelo Barros.

O acervo do arcebispo reúne mais de 220 mil páginas, que estão tombadas a partir de um decreto do governo do estado. O material reúne cartas, crônicas, mensagens e discursos reunidos em mais de 300 caixas.

A preservação desse conteúdo, no entanto, foi ameaçada após o local onde estava guardado o acervo ter sido invadido em 2020. Equipamentos foram quebrados e roubados do instituto que protegia as obras.

A partir de então, foi iniciado um processo que está sendo mantido em sigilo para organização, limpeza e, posteriormente, digitalização. Segundo o historiador do Instituto Dom Helder Camara (Idhec), Felipe Xavier, o religioso tinha o costume de anotar tudo o que pensava: "É por isso que nós temos esse grande acervo", contou.

Outras instituições também fazem parte da salvaguarda do legado literário do Dom da Paz. A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) é parceira no projeto do Idhec, tendo digitalizado 120 mil páginas e feito o tratamento de 16 mil fotos que contam a história de parte do século 20 no estado.

De acordo com a superintendente de digitalização e gestão documental da Cepe, Simone Farias, as imagens do acervo passaram a ter uma maior nitidez. "Quando a gente fala em serviço de digitalização é preservar a informação além do tempo", afirmou.

Segundo a coordenadora do curso de história da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Maria do Rosário da Silva, o material ficará à disposição de todos para que pesquisadores e pessoas que admiram a história do arcebispo "possam ter acesso de forma democrática, já que ela fica disponível como um acervo digital", diz.

Com os 25 anos da morte do religioso, o desafio é construir um novo centro de documentação para guardar todos os arquivos em segurança. De acordo com o Idhec, o terreno já foi comprado, e a nova sede do Centro de Documentação (Cedoc) tem previsão de começar a ser construída ainda em 2024.

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