sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A POLÍCIA FEDERAL CONTRA-ATACA

Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo

Cúpula da PF, inclusive diretor-geral, processa autores de ameaças a eles e familiares na internet

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, se reuniu na quarta-feira com advogados e abriu processo contra dez pessoas que fazem ameaças a ele e a seus filhos pelas redes sociais, inclusive com vídeos assustadores, até de estupros, numa escalada de ataques a delegados federais envolvidos em investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e bolsonaristas.

Foram esses ataques, aliás, que detonaram a crise entre o ministro do STF Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk e desembocaram na suspensão do X no Brasil. Encarregado do inquérito que indiciou Bolsonaro por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro pelo caso das joias sauditas, o delegado Fábio Alvarez Shor recebeu uma enxurrada de ataques e ameaças pela internet. Aí começou a guerra.

Moraes determinou a retirada de perfis no X que faziam as agressões e expunham a família de Shor, entre eles o do senador Marcos do Val. O X se recusou a retirá-los, não pagou multas pelo descumprimento da decisão judicial e acabou suspenso.

Andrei Passos e a PF não fazem referência direta a Bolsonaro e ao bolsonarismo nas representações ao Supremo, mas não há dúvidas quanto à origem da guerra virtual não apenas contra ministros do STF, mas contra a cúpula da PF. Até porque, além do inquérito das joias, Shor é encarregado dos inquéritos das fake news, das milícias digitais e do golpe de Estado, em que o próprio Do Val é alvo.

No pedido ao STF contra as ameaças a Shor, o delegado Elias Milhomens de Araujo, que investiga ataques coordenados por bolsonaristas contra a PF, pediu mais uma vez a prisão de dois blogueiros foragidos, Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, e medidas cautelares contra Do Val, inclusive busca e apreensão. Até aqui, o Senado tem tentado criar uma blindagem para Do Val. Não exatamente por ele, mas para evitar efeito cascata sobre outros senadores.

As ações são combinadas dos dois lados. Assim como fica evidente a articulação entre Musk e o X com Bolsonaro e o bolsonarismo contra instituições e líderes da resistência ao golpe, é clara a reação conjunta de Moraes, Andrei, Shor e Milhomens. Vale dizer, entre STF e PF.

Significa que a tentativa de negociação para que Musk pagasse as multas e registrasse uma representação oficial do X no Brasil não avançou. Logo, essa guerra vai longe, sem previsão para a volta da rede social no Brasil nem para o desfecho da mobilização de parte do Congresso para anistiar os criminosos que atentaram contra a democracia ao depredarem STF, Câmara, Senado e Planalto. Anistiar em nome do quê? Crime é crime, contra a democracia é ainda mais grave.

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