Ideias e representantes de influenciadores começam a avançar para o centro do poder
Talvez nunca antes tenhamos tido tanta informação a respeito de interesses e vontades mais gerais, do que se sabe agora por causa da voz do povo nas mídias sociais e dos meios de pesquisa de opinião nas redes. Sobre suas preferências quanto a políticas públicas ou programas socioeconômicos, continuamos a saber pouco. Porém, eventos ou ondas de mudanças sensacionais explodem nas nossas fuças e dizem algo de mudanças comportamentais e culturais.
Vide a maré de desgraça que vai sendo provocada por "bets", legais ou com a intenção de legalização: despesa bilionária, expansão do vício, oportunidades para o crime. Nesta quarta-feira (4), foi presa a advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra, 36, acusada ainda de modo opaco de associação a uma quadrilha que recorria a "bets" e firmas de publicidade, de câmbio etc. a fim de lavar dinheiro.
Como se diz por aí, Deolane é "puro suco de Brasil". Tem 20,7 milhões de seguidores no Instagram. O jovem decano dos influenciadores do Brasil, Felipe Neto, tem 17,3 milhões, embora seu universo fosse mais o X-Twitter —um presidente da República pode se eleger com 60 milhões de votos. A foto da carta manuscrita em que Deolane se diz "vítima de grande injustiça" (sua prisão) teve 1,6 milhão de curtidas até a noite desta quarta.
Sabe-se de seus amores com "famosos", participou de um reality show de TV aberta em 2022, foi rainha da bateria de uma grande escola de samba do Rio de Janeiro em 2024. É admirada, recebe elogios e bênçãos na internet por expor sua riqueza, sua vida privada e seu corpo. A fama virtual facilita a criação de empresas no mundo real (muita vez de produtos de beleza, roupas, brinquedos, jogos e até bets). Estatísticas meio imprecisas dizem que haveria centenas de milhares de influencers profissionais no país. O sucesso virtual facilita colonização das mídias tradicionais (no entretenimento em especial).
A mudança religiosa, o avanço econômico e cultural do agro e do sertanejo, o prestígio de público de policiais e militares e a eficiência da ultradireita nas redes produzem efeitos político-eleitorais palpáveis faz uns 15 anos. Apesar da onda político-digital de 2018, o mundo influencer ainda não tem representação notável na política politiqueira. Por falar nisso, apesar de tantas novidades, o grosso da representação política é composto de homens dispostos a manter tudo como está (ou pior), o establishment mais rastaquera, negocista e fisiológico. Uma névoa de centrão cobre o país como fumaça das queimadas.
Esse mundo de influenciadores, no caso já com associações criminosas, tem agora ao menos um sério candidato ao poder, à Prefeitura de São Paulo. É, claro, Pablo Marçal, que encanta ultradireitistas, adeptos de seitas de prosperidade, aspirantes ao sucesso ou apenas a uma vida decente negada pela realidade socioeconômica; muitos são desencantados com governos, desesperados e niilistas populares em geral.
Por ora, a política costumeira fagocita esses (falsos ou não) "outsiders". Mas quem é capaz de conversa política racional com as pessoas que admiram influenciadores diversos, que vivem no mundo de Deolane e Marçais ou exemplares mais amenos da categoria? Esse mundo, "paralelo" na fantasia oficial e bem pensante, é a realidade brasileira.
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