domingo, 15 de setembro de 2024

UMA ELEIÇÃO EM 3 TURNOS

Eliane Cantanhêde, O Estado de S. Paulo

Nunes ganhou vida própria sem Bolsonaro, mas Boulos depende muito de Lula para vencer

Com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) crescendo nas pesquisas e o “outsider” Pablo Marçal (PRTB) perdendo fôlego, a eleição na principal capital do País vai embicando para um segundo turno entre Nunes, à direita, em ascensão, e Guilherme Boulos (PSOL), à esquerda, com sinais de estar batendo no teto. O resultado prático é que o ex-presidente Jair Bolsonaro finalmente desceu do muro a favor de Nunes, enquanto o presidente Lula já mexe na agenda para entrar com força na campanha de Boulos em São Paulo.

Candidato à reeleição, Nunes já seria o eixo natural da campanha paulistana, mas tem de enfrentar não dois, mas três turnos. O primeiro é contra Marçal, que parece deslizar da condição de “fenômeno” para a de “meteoro” – sobe muito, mas dura pouco. Essa tendência descarta a hipótese que chegou a ser cogitada de uma disputa final entre dois nomes da direita, Nunes e Marçal. O previsível volta a ser direita versus esquerda.

O segundo turno de Nunes é contra todos os outros, como sempre acontece com o candidato que disputa a reeleição, tem os privilégios do cargo e, ainda por cima, lidera as pesquisas. Logo, Boulos, Tabata Amaral (PSB) e Luiz Datena (PSDB), além do próprio Marçal, devem centrar a artilharia contra ele. Um contra todos, todos contra um – o favorito.

No terceiro turno de Nunes (oficialmente, o segundo), provavelmente contra Boulos, o fator decisivo tende a ser a rejeição. O eleitor não vota necessariamente no seu preferido, mas naquele com melhores condições para derrotar o que ele mais rejeita.

Nessa corrida de obstáculos, Nunes deixa um rastro de desmistificações. O governador Tarcísio Gomes de Freitas é um puxador de votos mais eficaz do que Bolsonaro e o rádio e a TV ainda pesam, e muito. Nunes subiu empurrado por um tempo enorme de “propaganda tradicional” e Marçal não conseguiu compensar com a internet.

Quanto mais Marçal fica conhecido, mais sua rejeição cresce e chega a 44% no Datafolha, suficiente para Nunes fisgar Bolsonaro e bolsonaristas. Mas tem mais: as projeções de segundo turno (ou terceiro...). Pela Quaest, Nunes venceria Boulos por 48% a 33% e, no Datafolha, por 53% a 38%. Logo, o prefeito dá “mais segurança” à direita.

Lula estava distante da campanha, mas não tem alternativa: é mergulhar ou mergulhar na campanha de Boulos, para atrair o eleitorado de baixa renda e, desde já, jogar a rede nos votos de Tabata e Datena, que não têm chance, pelo quadro de hoje, de ir ao segundo turno. Nunes ganhou vida própria sem Bolsonaro, mas Boulos depende muito de Lula para vencer.

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