As previsões pessimistas criadas por conta de
um cenário com nuvens fiscais podem esconder os bons resultados que o país teve
neste ano
O Brasil foi o país que teve o maior aumento da previsão
de crescimento do FMI. Num grupo de 17 países, apenas cinco tiveram revisão
positiva da projeção, mas o número do Brasil subiu mais: 0,9 ponto percentual,
passando de 2,1% para 3%. Ontem, o Fundo alertou para o aumento do
endividamento e dos riscos fiscais. O Brasil vive entre essas duas realidades.
Sim, o país está encerrando o segundo ano de crescimento em torno de 3%, quando
as projeções iniciais eram bem menores, surpreendendo positivamente. E, sim,
existem problemas fiscais rondando, ainda que sejam um despropósito as análises
feitas por alguns economistas que dizem haver risco de a atual gestão fiscal
repetir o que houve no período Guido Mantega.
Há uma série de boas notícias na economia e esta semana
saiu mais uma: um crescimento forte da arrecadação em setembro. Comparado ao
mesmo mês do ano passado o aumento real foi de 11,61%, o acumulado em nove
meses aponta uma alta de 9,68% e os dois são recordes. A lista das boas
notícias na economia é longa. O desemprego caiu, a renda subiu, a inflação está
dentro do espaço de flutuação da meta, ainda que esteja se distanciando dos 3%.
A Moody’s, como se sabe, elevou a nota do Brasil.
Ainda assim, os juros futuros sobem para
níveis muito altos, o dólar está acima do que deveria estar e a previsão de
inflação do Boletim Focus bateu no teto da meta. Hoje, o IPCA-15 vai confirmar
essa proximidade com o teto. Não é desprovida de sentido a preocupação fiscal
em um país que tem tanta despesa obrigatória, tanta dificuldade para
flexibilizar qualquer gasto e muita pressão expansionista. A diferença é como
reage a equipe econômica. A do ministro Fernando
Haddad e ministra Simone Tebet tem
enfrentado pressões, virado jogos perdidos, formulado reformas e propostas de
corte de gastos. Nada a ver com truques e pedaladas fiscais que ocorreram, por
exemplo, no governo Bolsonaro, com coisas como a PEC dos Precatórios.
O economista José Roberto Mendonça de Barros publicou no
domingo um artigo no jornal “Estado de S.Paulo” dizendo que “o pessimismo anda
excessivo”. Depois de citar a projeção de uma Selic de 13,5% e a NTN longa a
6,5% de juro real, escreveu: “ao contrário do que esses números sugerem nossa
economia não está à beira do colapso”. Falei ontem com ele e José Roberto citou
algumas boas notícias.
— Os climatologistas que ouvimos são unânimes em admitir
que a chuva está atrasada, mas quando chegar não vai parar. Não que vá chover
demais, mas não vai ter veranico. Se for assim, o plantio será bom e a safra
será realmente boa. Com a alta de juros, a economia vai crescer menos no ano
que vem, mas o balanço das famílias melhorou e isso se vê na venda de imóveis.
A faixa 3 do Minha Casa, Minha Vida, de imóveis de R$ 200 mil a R$ 350 mil, que
exige uma poupança prévia e tem menos subsídio, está vendendo bem. Há
investimentos parrudos nos segmentos ligados aos recursos naturais, celulose,
alguns minerais, e também em descarbonização. Não é pequeno o que tem por aí.
O mesmo FMI, no relatório divulgado ontem, o Monitor
Fiscal, não trouxe um cenário animador. O Fundo achava que o déficit zero que o
governo promete para este ano só aconteceria em 2026 e agora passou para 2027.
Projetou que a dívida pública chegará a 97,6%, em 2029. A maneira como o Fundo
faz a conta da dívida é diferente da metodologia seguida pelo Brasil. Eles
contam como dívida os papéis do Tesouro que estão em carteira do Banco Central.
Na verdade, esses papéis não são dívida. Foram emitidos para serem usados para
o manejo da política monetária. Nossa forma de fazer a conta é mais lógica, mas
de qualquer maneira o país está passando de 80% de dívida bruta. O governo,
qualquer governo, prefere apresentar a conta da dívida líquida, que desconta o
que o país tem em reserva cambial.
Seja qual for o número ou o método, a dívida ainda não
está estável. Isso é que preocupa. E o custo dessa dívida crescerá um pouco
mais no dia 6 de novembro, quando a Selic será elevada. A maioria do mercado
aposta em 0,5 ponto percentual de aumento.
O excesso de pessimismo fortalece os cenários em que
alguns começaram a prever, e agora quase todos estão apostando, de alta mais
forte dos juros. Mas olhando os dados com objetividade, o fato é que existem
nuvens fiscais sobre o país, mas a economia vive um bom momento.
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