domingo, 20 de outubro de 2024

DONALD TRUMP SONHA COM UM BRAÇO ARMADO PARA UM NOVO REGIME

Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

Republicano transformou delírio autoritário em peça de propaganda ao prometer combate a 'inimigo interno'

Donald Trump sonha com um braço armado para o regime que deseja inaugurar se vencer as eleições. Nos últimos dias, o republicano transformou o delírio autoritário em peça de propaganda. Apontou que pretende chamar agentes de elite para "caçar, prender e deportar" imigrantes e sugeriu o uso de militares contra adversários políticos.

Nesta corrida para voltar ao poder, Trump tem se mostrado mais confortável em recorrer à xenofobia e ao ódio político, banhados em teorias da conspiração e alarmes de pânico social. A novidade da reta final da campanha é sua desenvoltura na defesa do direcionamento do monopólio estatal da força contra alvos escolhidos por um presidente.

O último truque do republicano inclui a promessa de combater um "inimigo interno", expressão que ele repetiu ao longo da semana para se referir a rivais democratas. Numa nação como os EUA, marcada pela aplicação severa do conceito de segurança nacional, Trump pisca para uma doutrina baseada na ampliação do arbítrio por razões políticas.

O ex-presidente conta com a simpatia de muitos eleitores e alguma dose de cinismo para espalhar suas ideias, de maneira aberta ou dissimulada. Diz que vai deportar integrantes de gangues violentas, mas gosta de se referir a imigrantes, de maneira geral, como criminosos. Classifica os tais inimigos internos como "lunáticos de extrema esquerda", mas inclui na cesta políticos nada extremistas, como Nancy Pelosi.

A retórica de Trump ressoa em ambientes eleitorais, institucionais e radicais. Começa como um apelo à raiva e ao medo de um eleitor convencido de que seu voto é imprescindível para derrotar uma ameaça grave; passa pela aposta na contaminação de aparelhos de segurança e militares; e soa como uma convocação às milícias armadas que existem em determinados estados.

Trump tenta emoldurar a perseguição a adversários como uma espécie de revanche contra um sistema responsável por investigá-lo, processá-lo e condená-lo. O argumento, infame e dissimulado, deixa claro que o republicano está interessado em reivindicar plenos poderes, além de usar a presidência como uma ferramenta de vingança particular.

Bookmark and Share

Nenhum comentário:

Postar um comentário