Morre
aos 96 anos Gustavo Gutiérrez, padre peruano considerado o pai da Teologia da
Libertação
Sacerdote
exerceu grande influência no pensamento teológico e na história da Igreja
latino-americana. Gutiérrez recebeu um agradecimento do Papa Francisco em 2018,
ao completar 90 anos, pelo 'seu amor preferencial pelos pobres e descartados
pela sociedade'.
Morreu na noite desta terça-feira (23), aos 96 anos,
o padre peruano Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação.
O sacerdote exerceu grande influência no pensamento teológico e na história da
Igreja latino-americana.
A ordem dominicana do Peru, à qual pertencia
Gutiérrez, anunciou nas suas redes sociais que o sacerdote “partiu para a casa
do Pai”, e acrescentou que os seus restos mortais serão sepultados numa das
salas do convento de Santo Domingo, construído em Lima no século XVI.
Gutiérrez, doutor em teologia pela Universidade
Católica de Lyon, publicou em 1971 o livro “Teologia da Libertação.
Perspectivas”. A obra teve um impacto profundo ao propor uma fé através
da justiça social centrada nos pobres.
Em seu livro, Gutiérrez indica que a pobreza “é um
estado escandaloso, um atentado à dignidade humana e, portanto, contrário à
vontade de Deus”.
Seu pensamento foi criticado por setores
conservadores da América Latina. Nas décadas de 1960 e 1970, porém, ele atraiu
muitas pessoas criados no catolicismo que estavam indignados com a desigualdade
e as ditaduras em que viviam vários países da região.
Na década de 1980, a Congregação para a Doutrina da
Fé, liderada pelo Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, elogiou a
preocupação da Teologia da Libertação com os pobres e a justiça, mas ao mesmo
tempo mostrou a sua preocupação com o uso do marxismo para análise.
Gutiérrez e os seus seguidores insistiram que a verdadeira
teologia da libertação esteve sempre em perfeita harmonia com a doutrina social
da Igreja sobre os pobres.
Além de sua produção teológica, Gutiérrez trabalhou
por mais de duas décadas numa paróquia de um bairro de Lima.
Em 2014, Gutiérrez foi aplaudido no Vaticano durante
a apresentação do livro “Pobres para os Pobres. A Missão da Igreja”, escrito
pelo Cardeal Gerhard Müller, então prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé. A obra trazia capítulos escritos por Gutiérrez e um prólogo do Papa Francisco.
Quando Gutiérrez completou 90 anos, em 2018, o Papa
Francisco escreveu-lhe uma carta que foi lida publicamente no convento de Santo
Domingo e na qual dizia: “Agradeço-te por tudo o que tens contribuído para a Igreja
e para a humanidade, através do teu serviço teológico e do teu amor
preferencial pelos pobres e descartados pela sociedade”.
O teólogo peruano recebeu o Prêmio Príncipe das
Astúrias 2003, na menção Comunicação e Humanidades, juntamente com o jornalista
polaco Ryszard Kapuscinski.
Gustavo Gutiérrez nasceu em Lima em 8 de junho de
1928.
“Agradecemos a Deus por ter tido um sacerdote
teólogo fiel que nunca pensou em dinheiro, nem em luxos, nem em qualquer coisa
que parecesse acreditar que era superior”, disse o cardeal e arcebispo de Lima.
Carlos Castillo no site do arcebispado.
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