quinta-feira, 31 de outubro de 2024

PEC DA SEGURANÇA É NECESSÁRIA PARA COMBATER CRIME

Editorial O Globo

Encontro de Lula com governadores abre caminho para ação integrada

Foi oportuno o encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com 13 governadores nesta quinta-feira em Brasília para discutir a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança, conjunto de medidas elaborado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que amplia o papel do governo federal na área e cria bases para maior integração no combate à violência. Lula disse que a PEC é o início da discussão. A proposta só avançará se houver diálogo com os estados.

A PEC tem muitos méritos. O maior é tirar o governo federal da apatia e conferir-lhe o protagonismo necessário para traçar diretrizes e coordenar o combate a organizações criminosas que impõem o terror. Embora a segurança pública seja tarefa constitucional dos estados, Brasília não pode se omitir, uma vez que há muito o problema ultrapassou os limites locais. Facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, ou o Comando Vermelho (CV), do Rio, controlam rotas internacionais do tráfico, atuam em diferentes estados e até no exterior, como multinacionais do crime. Evidentemente, os estados sozinhos não têm como enfrentá-las. Desde a promulgação da Constituição de 1988, a criminalidade mudou.

O texto propõe incluir na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), modelo semelhante ao SUS. Embora tenha sido criado em 2018, ele ainda não funciona plenamente. Como acontece na saúde, ele poderia facilitar a integração entre as três esferas de governo, dando maior agilidade às decisões. A Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) teriam atribuições ampliadas, especialmente no combate às organizações criminosas. É positiva a ideia de transformar a PRF em polícia ostensiva com a missão de atuar também em ferrovias, hidrovias e áreas indígenas.

A iniciativa inclui também a integração das bases de dados. É um absurdo que registros de ocorrência e informações sobre antecedentes criminais ainda hoje não sejam compartilhados entre os entes federativos. Isso só dificulta a atuação das forças de segurança e facilita a dos criminosos. É importante, ainda, a atuação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas investigações sobre lavagem de dinheiro. No combate ao crime organizado, o cerco às finanças das quadrilhas é o modo mais eficaz de desbaratá-las.

Ainda que tardio, o reconhecimento do governo federal é um avanço. Em gestões petistas anteriores, a segurança sempre foi tratada como tabu. Temia-se levar o desgaste para dentro do Palácio do Planalto. Mas, cedo ou tarde, a conta sempre chega a Brasília. A segurança é um dos pontos de vulnerabilidade do governo Lula, mostram pesquisas de opinião. É também uma das maiores preocupações dos brasileiros.

Há resistências contra a PEC. Parte dos governadores reagiu temendo esvaziamento das polícias locais. Mas trata-se de assunto de Estado que não deve ser contaminado pela luta política. A ideia da PEC é que as forças federais se ocupem prioritariamente das organizações criminosas, como tráfico e milícia. Ela não exime os estados de suas responsabilidades na segurança. Há hesitações também dentro do Planalto. O texto foi enviado à Casa Civil em junho e até agora pouco avançou. É fundamental que governo federal e estados busquem um consenso para atuação coordenada na segurança. O modelo atual não tem funcionado. A PEC é uma oportunidade de aperfeiçoá-lo.

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