PSD termina o processo como o grande vencedor, com 887
prefeitos eleitos; MDB elegeu 854
O resultado final das eleições municipais deste
ano relativiza a polarização nacional entre os campos do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quem ocupou o
espaço do centro no segundo turno, na grande maioria das 50 disputas, foi o
vencedor. Os candidatos que não conseguiram sair do espectro ideológico de seus
partidos, na maior parte dos casos, foram derrotados.
O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto
Kassab terminou o processo eleitoral com o maior número de municípios
(887). Venceu no domingo 9 dos 10 segundos turnos que disputou, inclusive
em Belo
Horizonte e Curitiba,
respectivamente com Fuad Noman e Eduardo Pimentel.
O segundo em número de municípios é o MDB, que reelegeu
Ricardo Nunes em São Paulo e Sebastião
Melo em Porto Alegre e elegeu Igor
Normando em Belém. No total a sigla ficou com 854 municípios. Na divisão
por eleitorado governado, MDB e PSD praticamente empataram na liderança, o
primeiro administrando 27,7 milhões de eleitores e o segundo, 27,6 milhões.
“A eleição mostrou uma direita com cara,
uma esquerda com cara e um centro que está ficando com uma cara”, afirmou
Kassab, classificando como líder da primeira categoria o ex-presidente Jair
Bolsonaro e o da segunda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Kassab coloca ao centro o seu próprio partido, o MDB e o
União Brasil e diz que em relação a 2026 está tudo em aberto. “O problema do
centro no Brasil é a falta de opções majoritárias”, diz. Segundo o ex-prefeito,
o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é uma
liderança estadual, e não nacional. O presidente nacional do MDB, deputado
Baleia Rossi, também afirmou ao Valor, na quinta-feira, que “não tem jogo
jogado em 2026” e que “está tudo em aberto”.
O PL venceu em apenas 6 das 22 disputas em segundo turno de
que participou. Das 9 capitais em que estava no páreo, levou duas:
Cuiabá, com
Abílio Brunini, e Aracaju, com
Emília Corrêa. Mas colheu bons resultados nas cidades de interior de grande
porte, sendo sua vitória mais importante em Guarulhos (SP), com Lucas Sanches.
Soma 516 municípios que correspondem a 19 milhões de eleitores.
Onde o ex-presidente Jair Bolsonaro entrou diretamente no
segundo turno contra governadores, perdeu. Foi
o caso de Goiânia, em que esteve no próprio domingo para tentar derrotar o
governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O bolsonarista Fred
Rodrigues (PL), contudo, tomou uma virada e perdeu para Sandro Mabel (União
Brasil).
Bolsonaro também teve insucessos em algumas capitais onde o
governador não teve papel relevante no segundo turno. Em
Manaus, o presidente e sua família participaram ativamente da campanha do
Capitão Alberto Neto (PL). Quem ganhou, contudo, foi o prefeito David Almeida
(Avante). Em
Belo Horizonte o ex-presidente e seu grupo político entraram de cabeça
na candidatura de Bruno Engler, a mais votada no primeiro turno, mas prevaleceu
Fuad Noman, depois de uma campanha extremamente agressiva. Neófito em eleições,
Noman ganhou o segundo turno com um apoio tardio da esquerda, mas o elemento
decisivo para sua vitória foi a imagem de experiência administrativa e
maturidade, em contraste com o adversário.
O ex-presidente teve uma participação quase simbólica na
eleição de Ricardo Nunes em São Paulo e na de Eduardo Pimentel em Curitiba.
Flertou no primeiro turno com Pablo Marçal na eleição paulistana e no
segundo turno com a jornalista Cristina Graeml, do PMB, em Curitiba. As
vitórias de Nunes e Pimentel são produto direto do esforço dos
governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior
(PSD-PR).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve
participação discreta nas eleições municipais. Na única vitória do PT nas
capitais, em
Fortaleza com Evandro Leitão, o elemento decisivo foi a capacidade do grupo
político liderado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em cooptar
partidos e eleitores de fora da esquerda. Leitão teve o apoio de MDB, PP e PSD
e no segundo turno recebeu adesões até do PL do adversário, André Fernandes.
Além de Fortaleza, o PT ganhou também as eleições em
Camaçari (BA), Pelotas (RS) e Mauá (SP). Perdeu em 3 capitais e em 6 cidades do
interior. Sai melhor do que em 2020, o fundo do poço do partido, mas muito
aquém do que já foi durante o primeiro governo de Lula e na administração de
Dilma Rousseff. Elegeu 252 prefeitos, somando um eleitorado governado de 7,6
milhões de eleitores, o equivalente a 4,9% do total nacional. Segundo comentou
o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o PT está pequeno para a base social que
sustenta o presidente Lula e mesmo para a bancada parlamentar que ostenta e os
governos estaduais que controla.
Fora do PT, o PSB conseguiu se expandir em relação ao
resultado de 2020, embora não tenha ganhado as duas disputas de segundo turno
de que participou. O Psol termina o processo eleitoral com 17 vereadores a
menos do que elegeu há quatro anos e sem nenhum prefeito. A votação de
Guilherme Boulos em São Paulo no segundo turno, de 40,65%, foi apenas 0,03
ponto percentual superior à obtida por ele no segundo turno de 2020, contra
Bruno Covas (PSDB), o que significa extrema dificuldade de ampliar o eleitorado.
No caso da direita, é possível afirmar que este campo hoje
até pode ser liderado pelo ex-presidente Bolsonaro, como disse Kassab, mas não
se resume a ele. Ronaldo Caiado sai fortalecido em Goiás, com a vitória não só
na capital mas no segundo maior município, Aparecida de Goiânia, e prefeitos
ultraconservadores, mas fora do PL, também conseguiram um novo mandato, como o
caso de Adriane Lopes, do PP, em Campo Grande.
O governador goiano tenta se viabilizar como presidenciável,
e o União Brasil irá governar 584 prefeituras e 16,5 milhões de eleitores. É o
terceiro maior partido em número de prefeituras e o quarto maior em eleitorado
governado.
O Novo conseguiu manter no primeiro turno a
Prefeitura de Joinville e no segundo turno ganhou em Taubaté (SP), mas sua
única liderança nacional, o governador mineiro Romeu Zema, não se saiu bem na
eleição. As vitórias de Fuad Noman em Belo Horizonte e de Elisa Araújo em
Uberaba fortalecem o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e
do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se articulam para
disputar a eleição estadual em 2026 possivelmente em parceria com o PT, que
manteve no primeiro turno as prefeituras de Juiz de Fora e Contagem.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu em São Paulo
vitórias de seus aliados em 15 das 17 disputas em segundo turno, e seriam 18
caso a eleição de Jundiaí (SP) não terminasse sub judice. Mas é uma base
fragmentada em cinco partidos: Republicanos, PL, PP, União Brasil, PSD e MDB.
São partidos que devem caminhar com ele em caso de uma reeleição ao governo de
São Paulo, mas a união em uma eventual candidatura presidencial em 2026 é
duvidosa.
O governador surpreendeu neste domingo ao fazer uma
declaração bombástica contra Boulos no momento em que foi votar. Afirmou que
havia recebido informação da área de inteligência da Polícia de que integrantes
do Primeiro Comando da Capital (PCC) teriam feito um “salve” (comunicado)
pedindo votos para o candidato esquerdista. Ele não apresentou provas e a
Justiça Eleitoral desconhece a acusação.
Tarcísio já é objeto de uma ação de investigação da Justiça
Eleitoral (Aije) apresentada pelo Psol, e aliados do governador foram prudentes
ao serem instados a comentar o episódio. “Não estive acompanhando de perto,
estava concentrado nas eleições do Brasil como um todo”, disse Kassab, que
esteve na comemoração da vitória de Nunes domingo à noite, junto com Tarcísio e
outras lideranças partidárias.
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