Tarcísio tentou interferir em eleição e deu carimbo
oficial ao PCC
Ao citar facção contra rival, governador admitiu que
crime manda cada vez mais em estado que o elegeu
Ao festejar a reeleição em São Paulo, o prefeito Ricardo
Nunes chamou Tarcísio de Freitas de “líder maior” e o lançou à Presidência em
2026. “Seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, proclamou.
O saldo das urnas reforçou Tarcísio como virtual candidato
das direitas caso seu padrinho, Jair Bolsonaro, permaneça inelegível. Mas o
governador manchou a vitória ao jogar sujo para ajudar Nunes no dia da eleição.
Sem apresentar provas, Tarcísio disse que o Primeiro Comando
da Capital (PCC) teria orientado voto em Guilherme Boulos, adversário do
prefeito. Depois seus aliados atribuíram a acusação a bilhetes apócrifos,
vazados pela polícia que ele controla.
A conduta do governador foi tão ou mais
grave que a de Pablo Marçal, que divulgou um laudo falsificado contra Boulos às
vésperas do primeiro turno. Com as urnas abertas, Tarcísio usou o cargo para
prejudicar um oponente e beneficiar seu candidato. Um caso típico de abuso de
poder político.
Depois da vitória de Nunes, assessores do governador fizeram
circular que ele estaria arrependido do episódio, que não teria passado de um
“erro” ou “deslize”. Se os tribunais aceitarem essa conversa, será melhor
revogar o Código Eleitoral.
No mesmo domingo em que Tarcísio tentou interferir na
eleição, Bolsonaro voltou a atacar o TSE e insinuou que o presidente Lula teria
simulado o acidente que o deixou com cinco pontos na cabeça. A sintonia entre
as duas falas mostra que a operação para descolar Tarcísio da extrema direita é
pura propaganda. Criador e criatura podem se diferenciar na forma, não no
conteúdo.
Além de expor seus métodos, a declaração do governador
serviu para realçar um novo fenômeno: a onipresença do PCC nas eleições de São
Paulo. A facção nasceu nos presídios, dominou a venda de drogas e se infiltrou
nos serviços públicos. Agora é parte do debate eleitoral, onde divide espaço
com temas como a poda de árvores e a coleta de lixo.
Nunes e Marçal se acusaram mutuamente de ligação com o
crime, recorrendo a apelidos como “tchutchuca do PCC”. Ao entrar na ciranda,
Tarcísio naturalizou e pôs carimbo oficial na influência da facção na política.
E admitiu que o crime manda cada vez mais no estado que o elegeu.
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