Os çábios acharam um nicho para arrecadar
O escurinho de Brasília produz
ideias malucas para arrecadar, condição necessária para gastar mais. Primeiro,
soltaram a jogatina eletrônica, para que as empresas avaliassem o potencial do
mercado. Esperavam arrecadar R$ 3,4 bilhões vendendo outorgas. Deu no que deu.
Agora, a novidade é um projeto de tunga no seguro-desemprego.
A ideia é ardilosa. Trata-se de pagar menos a pessoas demitidas sem justa
causa que, por isso, recebem do empregador um adicional de 40% sobre o valor do
Fundo de Garantia.
Em tese, pegaria só trabalhadores que ganhavam mais de quatro salários
mínimos (R$ 5.648). Num exemplo hipotético, esse bilionário, demitido sem justa
causa, receberia R$ 6.900 em razão da multa sobre seu FGTS e teria
direito a cinco parcelas de R$ 2.300 de seguro-desemprego. Com a mudança, ficaria
só com duas parcelas do seguro-desemprego. Tomaria uma tunga equivalente à
multa, que saiu do bolso do empregador. Com a mágica, o governo economizaria R$
5,6 bilhões.
Avançar no dinheiro dos desempregados é uma covardia social. Misturar
FGTS e multa — um pecúlio do trabalhador — com o seguro-desemprego — uma
política social — beira a noção de confisco.
Esse tipo de fúria fiscal levou a uma descoberta: o
seguro-desemprego de quem ganha acima de R$ 2.824 custa R$ 15 bilhões. Isso
deveria ser motivo de orgulho. É esse dinheiro que socorre o orçamento de
milhões de pessoas quando perdem seus empregos. Nesse bloco de bilionários
(para a ekipekonômica) estão 23% dos beneficiários do seguro-desemprego. Só
0,66% deles ganha acima de dez salários mínimos.
É um exagero supor que a classe média comece com rendimento acima dos R$
2.824, mas vá lá. Arma-se uma tunga sobre os desempregados que ganhavam
salários baixos e, em seguida, morde-se toda a classe média desocupada.
O governo quer equilibrar suas contas. Há duas maneiras: arrecadando mais
ou gastando menos. Descobriram que se gasta muito com os desempregados.
A gracinha foi posta em circulação, casada com a ideia de conter os
supersalários de servidores públicos. Contem outra, doutores.
Uma boa ideia seria transformar em serviço gratuito a presença de
hierarcas em conselhos de empresas estatais. Em março, 17 dos 38 ministros
complementavam seus salários de R$ 41 mil caindo de paraquedas nesses
conselhos, muitas vezes sem grande qualificação. Quatro deles têm cadeiras na
Companhia de Gás do Rio. A cereja desse bolo está na Itaipu Binacional. Lá,
cinco ministros recebiam R$ 26 mil por mês por seis reuniões anuais. Em matéria
de exemplo de austeridade, essa gambiarra é um primor.
A mágica da tunga em cima dos desempregados vem sendo cozinhada na
periferia da ekipekonômica e depende da aprovação de Lula. É difícil que
prospere, mas a seu favor sopra um vento de Brasília: toda vez que o governo
pensa em morder o andar de cima, fracassa, mas, quando pretende morder o andar
de baixo, consegue.
No governo de Jair
Bolsonaro, pensou-se em tungar os desempregados cobrando-lhes a
contribuição previdenciária. Era tunga e, como a liberação de cassinos, não
prosperou.
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