Inspiração, que vem sendo mencionada, é o “Plano de
Metas” do ex-presidente Juscelino Kubitschek
Diante do recado das urnas ao partido, alas do PT
intensificaram as cobranças internas para que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva dê uma espécie de “cavalo de pau” na gestão atual, a fim de apresentar
aos brasileiros um “projeto de país” de longo prazo, que contemple grandes
obras estruturantes e um modelo arrojado de sistema educacional para vigorar na
próxima década.
“Qual é o nosso projeto para o Brasil, olhando para os
próximos dez anos? Não tem”, questionou um decano do PT em conversa com a
coluna. Ele defende a elaboração de um ambicioso projeto com grandes obras
estruturantes, uma espécie de “Super PAC [Programa de Aceleração do
Crescimento], associado a uma proposta consistente de uma política educacional
moderna e eficiente.
Esse “projeto de país” seria financiado com
a antecipação das receitas da Pré-Sal Petróleo S/A (PPSA), estatal responsável
pela venda do óleo e gás natural produzido no pré-sal - atualmente, cerca de
75% da nossa produção de petróleo. O cálculo é de que a empresa arrecade cerca
de R$ 300 bilhões com a comercialização desse óleo nos próximos dez anos. Em
julho deste ano, o leilão de petróleo realizado pela PPSA arrecadou R$ 17
bilhões, com a venda de 37,5 milhões de barris.
“Poderíamos investir, pelo menos, R$ 50 bilhões num projeto
bem elaborado”, defendeu este petista. Uma inspiração, que vem sendo mencionada
por esse grupo de petistas, é o “Plano de Metas” do ex-presidente Juscelino
Kubitschek (1956-1960), que teve como slogan de campanha um pacote de ações que
representariam “50 anos em 5”. O projeto ancorava-se em um amplo programa de
industrialização e modernização do Brasil, com grandes obras de infraestrutura,
que incluíram a construção de Brasília em apenas 42 meses. Sob JK, a indústria
deu um salto, especialmente a automobilística; ele entregou hidrelétricas, como
Furnas, e siderúrgicas, como a Usiminas, abriu estradas, como a Belém-Brasília,
mas encerrou o governo com aumento da inflação e da dívida externa.
Para este petista, filiado ao partido desde os anos 80, o
governo “Lula 3” precisa descolar-se de programas do passado, como Bolsa
Família, Minha Casa, Minha Vida e Farmácia Popular, e olhar para o futuro. Há
críticas, igualmente, de que o PAC 3 ainda não mostrou a que veio.
A percepção desse bloco de descontentes é de que o governo
gasta energia com políticas que não atraem mais a população, ao mesmo tempo em
que bons resultados da economia não se refletem no cotidiano dos brasileiros.
A reflexão desse petista ocorre em meio ao anúncio de mais
um dado positivo da economia: a notícia do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) de que a taxa de desemprego caiu para 6,4% no trimestre
terminado em setembro, a segunda menor da série histórica, iniciada em 2012.
Mas para este aliado de Lula, esse dado se traduziria em empregos formais com
remunerações baixas, entre 1 ou 2 salários mínimos, que não geram entusiasmo, e
vêm empurrando milhares de jovens para os trabalhos de aplicativos.
Durante a recente campanha eleitoral, petistas ouviram
queixas de que o preço da carne não baixou o suficiente, e o desejado
“churrasco de picanha”, alardeado por Lula nos comícios de 2022, continua sendo
um sonho. Os gastos com alimentos e bebidas foram alguns dos que mais
pressionaram a inflação nos últimos meses.
Diante dessa conjuntura, esses petistas estudam apresentar
um projeto de lei no ano que vem para antecipar as receitas da PPSA dos
próximos dez anos, a fim de investir esses recursos em obras de grande porte e
no desenvolvimento de um avançado sistema educacional. A ideia já foi
apresentada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que advertiu que a
iniciativa ameaça o arcabouço fiscal. Projeto semelhante foi protocolado na
Câmara dos Deputados em 2022, encaminhado pelo então ministro da Economia,
Paulo Guedes, mas com o objetivo de zerar o déficit fiscal.
Anistia
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL),
apresentou a aliados a saída viável que ele vislumbra para o projeto de lei que
concede uma anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de
2024, defendido pelo PL e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ideia seria aplicar o benefício, exclusivamente, àqueles
condenados com penas leves, passíveis dos Termos de Ajustamento de Conduta
(TAC) que o Supremo Tribunal Federal (STF) já vem firmando com esses réus. No
lugar da prisão, penas alternativas como tornozeleiras eletrônicas e a
proibição do uso de redes sociais.
Na visão de Lira, o Congresso “oficializaria” esses acordos
no formato de lei. Porém, a anistia só pode alcançar réus que já foram
condenados. Essa premissa exclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ainda não
foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, pela possível
ligação com os atentados.
Levantamento obtido pela repórter Flávia Maia, do Valor,
mostrou que, até o momento, há 221 condenados por crimes mais graves, como a
depredação dos prédios. Entre as ofensas de grau leve, já foram 428 acordos
homologados e 780 estão em andamento. Há 171 denunciados que ainda não viraram
réus.
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