Morre Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara,
Arthur Lira
Político alagoano de 82 anos iniciou carreira na Arena,
chegou ao Senado e era prefeito de Barra de São Miguel pelo PP
Brasília e Maceió Morreu nesta terça-feira (14), aos 82 anos, Benedito de Lira, pai do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Em sua trajetória política, o alagoano chegou a se tornar
senador e, desde 2021, era prefeito de Barra de São Miguel (AL), cidade
conhecida pelas praias e casas de veraneio. Em 2024, foi reeleito, com 68% dos
votos.
Ele enfrentava um tratamento oncológico e, no dia 31 de
dezembro, passou por um procedimento cirúrgico de emergência. Estava internado
no Hospital Arthur Ramos, em Maceió. Com a morte dele, assumirá a prefeitura o
seu vice-prefeito, Henrique Alves Pinto, também do PP.
Benedito não participou da cerimônia de posse para o segundo
mandato, em 1º de janeiro. Na ocasião, foi representado por Arthur Lira, que se
emocionou num discurso feito com referências ao pai.
O presidente da Câmara dos Deputados estava em Maceió
acompanhando o tratamento. Esse foi um dos motivos citados para não estar
presente na solenidade alusiva aos dois anos do 8 de janeiro na semana passada.
Nesta terça, em rede social, Arthur Lira disse que o pai
"lutou até o fim" e "manteve-se firme no trabalho até as últimas
forças".
"Meu pai, meu herói, minha referência", escreveu.
"Homem honrado, lutador, fez de sua vida exemplo de superação permanente.
Sempre comprometido com os mais humildes, o que não faltava ao nosso Biu era
disposição para salvar e melhorar a vida das pessoas."
O sepultamento de Benedito será na manhã desta quarta (15)
no cemitério Parque das Flores, em Maceió, onde deve ser iniciado o velório
nesta terça, após a liberação do corpo.
O presidente Lula (PT) ligou para Arthur Lira para expressar
condolências e disse em rede social que Benedito foi uma "voz sempre ativa
e importante do povo alagoano".
Benedito de Lira nasceu em 1º de maio de 1942 e começou a
carreira política nos anos 60, na Arena, o partido de apoio ao regime militar
(1964-1985), tendo migrado depois para legendas que a sucederam, como PDS, PFL
e, mais recentemente, PP.
Foi vereador da cidade onde nasceu, atualmente o município
de Junqueiro (AL), e também em Maceió.
De 1983 a 1994 foi deputado estadual. Em 1995, chegou à
Câmara dos Deputados, onde exerceu três mandatos.
O ápice da carreira ocorreu em 2010, quando foi eleito
senador por Alagoas. Ele tentou a reeleição em 2018, mas acabou apenas em
quarto lugar. A volta à vida pública ocorreu dois anos depois, com a eleição
para a Prefeitura de Barra de São Miguel.
Após a derrota em 2018, Benedito se recolheu, mas acabou
voltando a disputar cargos eletivos. "Em 2018, perdi a eleição e fui para
casa. Fiquei lá até 2020. E me sentindo vazio, faltando alguma coisa. Conversei
com a minha mulher e disse: Eu vou comunicar ao prefeito da Barra e às pessoas
que eu vou disputar a eleição", disse ele, em entrevista em 2020.
Em toda a sua carreira política, Benedito de Lira integrou o
chamado baixo clero do Congresso, ou seja, a massa de deputados e senadores sem
grande projeção nacional.
Alguns de seus primeiros feitos de destaque na Câmara
foram relatar
e propor o arquivamento de processos disciplinares contra colegas.
Em 1997, integrou o grupo de parlamentares que declararam
ser contra a emenda constitucional da reeleição, mas que, na última hora,
mudaram de lado e votaram a favor da medida defendida por Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) e que permitiu a reeleição do presidente da
República no ano seguinte.
Benedito de Lira era na época um dos poucos pefelistas que
estavam contra a reeleição. Depois de uma conversa com FHC, no entanto, ele
mudou de ideia.
"Mudei devido a pedidos de amigos e do meu filho, que é
vereador em Maceió pelo PSDB e está começando a carreira", disse
Benedito de Lira à Folha, na ocasião, em referência ao jovem
Arthur Lira.
No Senado, Benedito acabaria rompendo com o PT e votando
pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Benedito também teve o nome envolvido nos escândalos
dos sanguessugas (desvio
de verbas públicas para compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares) e da
Lava Jato, esse
último tendo Arthur Lira ao seu lado.
Nas investigações da Lava Jato, Benedito foi delatado em
depoimentos pelo doleiro
Alberto Youssef e denunciado no chamado "quadrilhão do PP"
ao lado do filho Arthur.
Os
relatos feitos por Alberto Youssef, de que pai e filho se beneficiavam
de recursos desviados da Petrobras, resultaram em denúncia apresentada pela
Procuradoria-Geral da República contra os dois alagoanos em 2015. O Supremo
Tribunal Federal, porém, rejeitou dois anos depois dar continuidade a essas
acusações.
Sobre a acusação de quadrilhão, a denúncia foi desmembrada,
ficando no Supremo a parte contra parlamentares exercendo mandato. O caso
relativo a Benedito foi remetido para a primeira instância.
O Supremo aceitou a denúncia do quadrilhão em 2019, mas, em
2021, em uma decisão incomum, mudou
de posição e acabou rejeitando a acusação. A denúncia contra Benedito
também foi arquivada pela primeira instância.
Em 2022, quando Lula foi eleito presidente da República,
Benedito de Lira, que é conhecido no estado como "Biu de Lira",
afirmou à Folha que o apoio dado pelo filho a Jair Bolsonaro
(PL) não
era obstáculo para que o presidente da Câmara fechasse uma aliança com o
petista, o que acabou ocorrendo posteriormente.
"Rapaz, olha, é o seguinte: você, em política, tem que
ter um lado. E ele [Arthur Lira] era um aliado, é um aliado [de Bolsonaro],
como presidente da Câmara. Logicamente, isso ajudou muito o município aqui. Eu
sou o prefeito, e nós ficamos com ele [Bolsonaro]. Terminou a eleição? Acabou.
Vamos pensar no futuro", disse Benedito, na ocasião.
Em 1º de fevereiro de 2023, dia em que Lira foi reeleito
para o comando da Câmara, o pai passou mal durante a cerimônia de posse dos
novos deputados, no plenário da Câmara, e teve que ser socorrido. Ele foi
levado a um hospital particular, com sintomas de desidratação.
Barra de São Miguel, de apenas 8.000 habitantes, tem sido
nos últimos anos um dos municípios turbinados com verbas de emendas
parlamentares. Em 2021, reportagem da Folha mostrou que a
prefeitura era, em Alagoas, a que mais havia recebido recursos de emendas de
relator proporcionalmente à população.
Na campanha eleitoral de 2024, teve como um dos principais
cabos eleitorais seu neto Alvaro, filho de Arthur Lira e que tem 18 anos. O
prefeito derrotou seu vice, Floriano Melo, que migrou para o MDB, partido do
clã político rival, do senador Renan Calheiros.
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