Fato quebrou sequência de narrativas favoráveis ao
ex-presidente
Três empresas de monitoramento de redes sociais foram a
campo entre terça e quarta-feira e chegaram à mesma conclusão. A denúncia
contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por golpismo, apresentada pela
Procuradoria-Geral da República, representou uma tomada de fôlego para a
esquerda.
O ex-presidente e seus aliados até o início dessa semana
estavam com várias operações em curso que geram engajamento massivo nas redes
sociais. Pesquisas mostraram não só a queda de popularidade do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, mas a dianteira de Bolsonaro em simulações sobre 2026. A
ação do presidente americano Donald Trump contra a agência governamental Usaid
mobiliza a extrema-direita no Brasil e em todo mundo. As convocatórias para
manifestações públicas em 15 de março estão crescendo. O ovo está caro e a
direita tenta convencer a opinião pública que a culpa é do governo.
No meio dessa saraivada de balas da
direita, surge a denúncia da PGR que torna a prisão de Bolsonaro ainda este ano
bastante palpável, com acusações gravíssimas. Os defensores do ex-presidente em
um primeiro momento se encolheram.
Um dos sinais evidentes nesse sentido foi detectado pela
Nexus.
Usando ferramentas de “social listening”, a empresa pinçou
de forma aleatória as 402 postagens sobre o tema que geraram mais engajamentos
nas plataformas X, Instagram e Facebook. Dessas, 54% são neutras, ou seja,
foram veiculadas pela mídia. Dos 46% opinativas, somente 17% foram
manifestações contrárias à denúncia de Bolsonaro e 29% favoráveis. Isolando
apenas as expressões de opinião, foram 63% pró-denúncia e 37% contra. O
levantamento da Nexus foi da meia-noite da terça-feira até às 15 horas da
quarta. A denúncia do procurador Paulo Gonet tornou-se pública por volta das
20h30 da terça.
A Datatora, ferramenta usada pela empresa de monitoramento
Torabit, faz um raio X das postagens feitas por deputados federais.
Além das três plataformas já citadas, também foi incluída a
Bluesky. Foram 808 postagens que geraram 2,2 milhões de interações. Nada menos
que 82% das publicações foram feitas por deputados favoráveis à denúncia. Os
18% contrários à denúncia conseguem gerar engajamento médio maior, mas ficaram
com 39% do total de interações, ante 61% da ala pró-PGR.
A atividade febril de deputados governistas foi medida pelo
levantamento. O ex-ministro de Comunicação Social Paulo Pimenta (PT-RS) fez 25
postagens nas 48 horas do levantamento da Torabit, nos dias 18 e 19.
Contra a denúncia quem mais se destacou em quantidade foi
Evair Melo (PP-ES), com oito publicações. Quem teve mais engajamento nesse
campo foi Mario Frias (PL-SP), que fez nesse período seis postagens.
O levantamento “Autoridades Brasil”, do Ibpad, monitora
postagens de detentores de mandatos eletivos e dirigentes partidários. Entre os
dias 18 e 19 foram detectadas manifestações de 333 autoridades, sendo 52% delas
da esquerda.
As publicações com maior engajamento contra a denúncia foram
feitas pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e pelo ex-deputado Deltan
Dallagnol (Novo-PR). Os deputados federais Guilherme Boulos (Psol-SP) e
Lindbergh Farias (PT-RJ) tiveram mais interações pela esquerda.
A reação do campo bolsonarista começou de fato na
quinta-feira, período não monitorado pelas empresas, com a tentativa de
desconstruir a delação do coronel Mauro Cid e a isenção processual do relator
do caso, o ministro do STF Alexandre Moraes. O argumento central é que Moraes
teria coagido Cid a alterar o seu depoimento inicial, ameaçando retomar os
processos contra familiares do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Uma enxurrada de bolsonaristas mimetizou em 2025 a mesma
argumentação que petistas usaram entre 2016 e 2018. Naquele tempo os mesmos que
festejam a denúncia contra Bolsonaro acusaram a força-tarefa da Operação
Lava-Jato e o então juiz Sergio Moro de induzirem as delações submetendo os
réus a uma pressão psicológica gigantesca. Defensores incondicionais do
lava-jatismo hoje veem exorbitâncias de Moraes na condução do caso contra o
ex-presidente, mas não pensavam assim quando Moro sentenciava Lula. Querem a intervenção
de cortes estrangeiras no processo brasileiro, assim como a defesa de Lula no
passado procurou acionar até a ONU. Tudo muito similar no “modus operandi” das
partes envolvidas. Resta saber se o efeito final será o mesmo.
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